Foi mais ou menos assim que aconteceu

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Tava lá o ovulozinho maduro, dormindo no escuro, mas o guri safado quis entrar na guria.

O sortudo danado, “gotinha de porra” inconseqüente, foi logo se aconchegando no quartinho quente.

Nasceu o rebento, “um guri danado”, “moleque safado”, “cabra da peste”.

Matava aula só pra jogar bola e tomar banho de rio, nem poça d’água escapava, saía no sol, na chuva. Era um rebuliço.

Mais tarde “foi as guria”, não sossegava o facho atrás de um rabo de saia.

Cresceu mal-acostumado, cheio de mulher em volta, era mãe, era avó, era irmã, era tia, “era até a vizinha”.

O homem ficou danado, aprendeu tudo que podia com a mulherada, aprendeu até o que não devia ter aprendido.

Saiu putanheiro, caía nas graças das “mulhé”, comia até as putas de graça no puteiro.

Diz que uma certa noite, veio um povo de longe, tinham uma cachorra bonita, de raça, que acabou se enroscado a noite inteira com o cachorro deste guri. Foi uma zoeira danada, uma latição a noite inteira.

No outro dia bem cedo, o pobre do cusco andava amuado, com os olhos tristes, nem comer direito queria. Já vai definhando o animal.

O guri. Este anda meio estranho, quando não tá na rua, tá no quarto escrevendo poesia.

Acho que ele anda procurando a cadela pra ver se o cachorro fica mais animadinho.

A mãe dele reza toda a noite que é pra ele arrumar um emprego, encontrar uma mulher decente e deixar de procurar estas cadelas na rua.

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Nilson Ruas
Enviado por Nilson Ruas em 01/08/2009
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