O homem não morre quando deixa de viver, mas quando deixa de amar.Chaplin

Falar. Eustáquio queria era desabafar. Depois da despedida sem palavras. Um olhar de desprezo que ela lhe atirou. Tem despedida de todo jeito. Eustáquio Varela, funcionário publico de confiança do governo, tinha pensado numa despedida cheia de argumentos. Ele diria suas razões, ela diria as dela. No trocar de arrazoados e contra-arrazoados, quem sabe, poderia haver uma trégua, um “deixa eu pensar”,um” depois eu te digo” ou “eu te telefono” ou um acordo. Nem isso.Nem aquilo.Enfim, não devia ter sido assim do jeito que foi. Izabel Maria de Jesus o deixou em cacos. Ele a tinha chamado para botar as cartas na mesa. Na verdade, pensava que ia ser como das outras vezes, outras reconciliações. O amor mais forte depois de um perdão. Novas luas de mel. Ela gostava de cantar que ás vezes gostaria de ser morena, que não pintaria o cabelo, não usaria vermelho e não pensaria em dinheiro, não teria segredo, pacata serena, calada, nunca contaria piada. Não teria segredo, seria do mesmo jeito todo dia... Padre Nosso ave Maria. Ah, se eu iria gostar ? Podia não gostar, mas confiava e a confiança é o maior bem que uma mulher pode dar a um homem. Assim pensando e assim quase falando sozinho, Eustáquio Varela dirigia seu carro recém comprado numa promoção, com direito a sair a cara na televisão, devagar e sempre, pensando e pensando quase atropela uma mulher que ia atravessando a Avenida Frei Serafim e pensou que se tivesse correndo como gostava, teria finado aquela vivente. Freou em cima. Pediu desculpas e a mulher o mandou a merda. O chamou de corno irresponsável. Eustáquio deu de marcha e achou melhor ir mais devagar porque o povo hoje anda desembestado e não respeita mais carro. Nem quem dirige carro. Sem programação definida pensou em ir para os quiosques. Ali na beira do rio Parnaíba. Sempre teve vontade de andar por aquele trecho. Passava de carro e via muita animação.Dizia para si que ali era para os jovens. Teresina estava crescendo. Muita mulher.É verdade que via também muito homem mas o que ele olhava mesmo era para mulher, o bicho bom. As desportistas, as mulheres que caminham, outras que correm. Viu o vendedor de abacaxi e teve vontade de comer um pedaço. Nunca havia experimentado. Estacionou o veículo. Deu sorte que tinha uma vaga. Hoje em dia é mais fácil vaga em faculdade do que vaga para estacionar carro. Foi comer o abacaxi. O vendedor corta e entrega. Coisa rústica, pouca higiene, é assim mesmo, Teresina e suas coisas. Em terra de sapo, de cócoras com ele. Ficou manjando o ambiente, o clima.Olhou e viu.Uma lapa de mulher.Ela chegou e pediu “um abacaxi”.Ficou esperando o vendedor dar o “grau”. Ele puxou conversa .Ela deu trela.E o telefone. “O amor não morre quando deixa de viver, mas quando deixa de amar”. È, mas o amor é como melancia. Pode ser arrancada pela rama e basta uma semente no chão e água caindo para nascer tudo de novo. E o homem tem muitas vidas. Não morre quando deixa de viver, mas quando deixa de amar. Tudo no mundo, morre e nasce de novo.E Gogol disse em mil, oitocentos e tanto: A vida perderia toda beleza se não houvesse a morte. E a morte é deixar de amar.