Se não no fim, em algo se dá o meio

Regateávamos ruidosos, recantos remotos, ruas roídas, rosas. Até outros assuntos. Aí eu aprendi que isso era aliteração. Na verdade àquele tempo meu maior interesse era outro verbete: interação. Com a Lucinha, principalmente. Foi com esse intuito em mente que, munido de espírito de porco e pica em riste – na medida certa – meti-lhe a mão dentro do bustiêzinho bordadinho com florzinhas. Ainda àquele tempo (sempre ele, saudoso) não eram, eles, peitões, mamilões duros. Mas se davam ao gasto. O tempo que o diga.

Lirismo em alta, inocência quiçá, Lucinha até que deixou; quem não deixou foi sua mãe que, munida de um carolismo xiita e um grosso cabo de esfregão, frustrou minha primeira incursão por aqueles territórios. Não preciso nem dizer que Mamãe me tirou da explicadora depois deste ato não consumado.

Porém, voltei a revê-la anos mais tarde, num fim de mesmo, assim bem clichê, com direito a pôr-do-sol e cuias de mate chupadas – entre outras partes. Com todo visual me senti poeta, cara sensível que sou:

Animal efêmero,

sou eu, homem-cão

Esgueiro-me faceiro,

cheiro traseiros...

E ela pediu pra eu parar, naturalmente. O que nos levou conseqüentemente, papo vai papo vem, preliminares inclusas, à contradição:

- NÃOPÁRANÃOPÁRANÃOPÁRA!!!

Ser sensível tem dessas. Acho que atenção demais na infância resulta nisso. Não mimo, que é outra coisa. Uma coisa mais de viado. Vai ver foi só tv a cabo demais. O lance foi que comi a Lucinha, num friozinho ameno, como diria a meteorologia. Pela manhã a levei em casa, cavalheiro que sou. Dona Lúcia, a matrona, já póstuma, louvada seja. Beijinho de despedida, o pacote completo. Quando rodopiou nos calcanhares numa de ir-se, eu, aflito e afoito, ataquei de bolinada nos tais peitões. E ela lânguida:

- Ai... À tarde tarado...

Lucinha além de engolir, também aliterava, quem diria.

Douglas Evangelista
Enviado por Douglas Evangelista em 12/06/2006
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