VIDA DURA 2

Quando se aproximaram da igreja, é de se supor a alegria de Tonhão. Trazendo consigo uma bíblia embaixo dos braços, e vestido de um paletó com uma gravata mal arrumada, Tonhão apresenta o amigo ao pastor, que estava na porta e os recebeu com um caloroso abraço e boas vindas. Certamente pensou: “- Mais um dizimista! A igreja tá crescendo!”. Durante o culto, a igreja estava lotada, o Pastor, com a Bíblia na mão, no clímax de sua pregação, em meio a reiteradas “glórias”, “aleluias” e “améns”, asseverava em alto tom:

Nada acontece por acaso. Foi Deus quem os trouxe aqui. Entreguem suas vidas nas mãos de Deus e confiem que seus problemas, como a gordura diante do detergente, desaparecerão. Nunca desanimem” OBS. PEGAR DISCURSO DE PASTOR DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE”.

Teófilo ficara impressionado com o discurso do pastor, pois lhe fizera reviver um momento lúdico de quando era criança no nordeste e sua mãe o levava à missa. Na época ele não gostava muito e muitas vezes passava a missa dormindo. Entretanto, não tinha muita coisa a fazer a não ser acompanhar a mãe, além do mais, antes da missa, a diversão era certa entre a garotada quando o padre chegava, pelo menos uma vez por mês, no povoado, trazendo quase sempre balinhas e pães. Na capela de São Dimas, de manhã cedo, primeiro tinha o batismo das crianças, depois a missa. Ao final da missa o padre sempre era convidado para almoçar na casa de alguém. Só nunca almoçara na casa de Teófilo, pois seus pais eram caseiros que trabalhavam e moravam na propriedade de um homem rico que morava na cidade e, todo mês, trazia o padre para rezar a missa no povoado.

A memória desse tempo fez com que Teófilo se lembrasse do convite que o padre fizera a ele:

Você quer ser padre menino?

Eu não! Tem que usar vestido preto! Respondeu.

Depois das lembranças da infância, Teófilo ficou tão atento às palavras do pastor que, ao final, aproximou-se do pastor e contou-lhe as dificuldades porque estava passando. E começou perguntando se Deus existia mesmo.