MARESIA

Tá vendo o sol se pôr? Dizem que quando ele encosta-se à água todas as criaturas do mar param por um minuto para saudá-lo. Seria o início do fim ou só o início sem fim? A noite vem anunciada pelas poucas estrelas que começam a brilhar no céu e pela lua, que impetuosa nem espera o astro-rei se esconder. Enquanto uma pontinha laranja ainda resta no horizonte eu vou sentindo o cheiro do mar, caminhando lentamente com os pés descalços sobre a areia. Ele vem correndo atrás de mim com uma alegria sem tamanhos, os olhos cintilantes, suas marcas sendo deixadas na areia e logo apagadas pelas ondas.

Eu continuo andando sem olhar para trás, só sentindo a areia, observando o laranja que já não se pode ver no horizonte, e o tom escuro que agora invade o céu, mas não por completo. Meus pés ainda estão molhados, sento-me ao pé do mar e logo a roupa de fora também esta molhada. Por dentro estou sem roupa, simplesmente a natureza. E aquele outro corpo que senta perto de mim, que pede um carinho, cujos olhos não param de brilhar um só instante. Quanta alegria um ser pode ter no olhar?

O vento vem forte e frio agora, quer nos expulsar. Eu continuo sentada, o outro corpo sai e vai brincar com as pedras ali perto enquanto eu digo adeus ao mar, a lua e as estrela. Um adeus até amanhã. O vento vem brincar com os cabelos e me faz engolir areia, o mar agora tão sereno vem me convidar. Eu poderia colocar uma rede e dormir por toda a eternidade sob esse olhar. Hoje, infelizmente, não posso aceitar o convite. Tenho alguém me esperando na areia. Um latido surge ao longe, já impaciente, e eu levanto, enfim, sem palavras para a despedida, sem ter como me ausentar da minha casa. Sigo o rumo do meu amigo, que está não sei onde. Dou um assovio e ele finalmente aparece. O outro corpo estava entre as pedras, escondendo-se e me espiando ao longe. Os latidos insistentes começam a me apressar, deve ser hora de alguém comer. Vamos para casa, eu preciso acordar.