O Segredo (EC)


Sentia o cheiro de pinho e da grama orvalhada ladeando o caminho de cascalho. Havia o casal de mãos dadas no jardim. Ele, chapéu cor de palha, pescoço e rosto combinando com a calça verde clara. Ela, bolsa na mão, vestido musgo fazendo par com o terno do poeta.
            Ouviu um som, seguido de instantes de torpor. Seus pés afundavam no mangue enquanto suas mãos seguravam nas raízes aéreas. Diminutos caranguejos fugiam em direção à margem para a qual ela seguia. Era tudo visão e cheiro. Até o cheiro dos dejetos em meio às touças de bananeiras trazia boa sensação. Não lhe chegara ainda o mundo de palavras para censurar os sentidos.
            Novamente o som da campainha, não mais do interfone, e sim da porta do apartamento. Procurou ao lado da cama o controle remoto inventado especialmente para ela. 
            Num tempo diferente daquele do carrilhão da sala, enquanto a fisioterapeuta subia as escadas, sentira-se menina em meio ao sonho, caminhando para além do quadro na parede. Esse seria possivelmente o segredo, com que o cérebro lhe recontara passagem longa de vida em poucos segundos, o mesmo que contavam as pessoas que tiveram experiência de quase morte.


      
          Obra de Vincent van Gogh - Os Poetas no Jardim - Outubro de 1882



Este texto faz parte do Exercício Criativo “O segredo”
Saiba mais e conheça os outros textos, acessando:

http://www.encantodasletras.50webs.com/o_segredo.htm
meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 05/10/2009
Reeditado em 18/11/2011
Código do texto: T1848971
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.