Campos do paraíso

A história que haviam lhe contado era bonita, e Ana Maria não conseguia tirá-la da cabeça. Era lindo demais aquele conto de fadas que se passava.

A princípio, ela havia achado estranho a mãe sumir. Passou dias sem vê-la, nem a seu pai, e tia Lúcia, com quem ela ficou durante esse tempo, disse que eles estavam viajando. Ela sentia falta dos dois, mas tia Lúcia sempre dizia que eles não iam demorar pra voltar.

Até que papai veio vê-la. Ele estava chorando naquele dia... Ana Maria nunca tinha visto o pai chorar.

E em poucos minutos, os três, ela, papai e tia Lúcia, estavam no carro seguindo para um lado da cidade que Ana Maria não se lembrava de conhecer.

O carro foi estacionado em frente a uma casinha, na qual eles entraram. Lá, no meio da sala, estava uma grande caixa de madeira. Ana não conseguia enxergar o que havia lá dentro, mas viu que a caixa estava cercada de flores.

Seu pai a pegou no colo e a menina voltou logo os olhos naquela direção. E viu! Sua mãe estava na caixa, dormindo, com um vestido azul.

Imediatamente, ela questionou o porquê daquilo. E sua pergunta foi respondida por tia Lúcia, que levou-a até um canto e contou a história. Sua mãe havia ficado cansada, muito cansada. Então os anjos haviam vindo buscá-la e levá-la pra um campo muito lindo no céu, onde ela viveria com os anjos num lugar cheio de flores e onde ninguém era triste.

Imediatamente, Ana Maria questionou se a mãe deixara de gostar dela. Tia Lúcia disse que não, que a mãe gostaria dela para sempre e estaria sempre cuidando dela, mesmo morando no céu.

Ana Maria pensou em perguntar outras coisas, mas se calou.

Ela ficou com a tia e o pai naquele lugar estranho, por muito tempo.

Quando voltaram pra casa já estava escuro.

Ana Maria queria ter ficado dormindo com a mãe. Mas não podia, papai não deixava.

Quando ficou sozinha no quarto, ela lembrou que sempre que queria dormir e não conseguia, mamãe tomava o remédio que ficava no banheiro.

"Se eu tomar vou ir dormir com ela!"

E Ana foi para o banheiro. O potinho sempre ficava num ponto baixo. Era cor-de-rosa e bonito.

Ela abriu a tampa e viu vários comprimidinhos vermelhos. Pegou um copo e separou o comprimido. Era tão pequeno... "Talvez eu deva tomar todos eles". "Sim". Sua mãozinha miúda virou a abertura do pote para a boca e ela engoliu vários comprimidos, bebendo um grande gole de água depois.

Duas horas depois, quando tia Lúcia entrou no banheiro para escovar os dentes, ela soltou um grito.

Sua sobrinha estava estendida lívida sobre o chão de azulejos. Tinha no rosto angelical uma paz estranha e fria e nas mãos um potinho. Tinha ido dormir com mamãe...