Memória da alma

No silêncio da tarde, estou eu a me observar no espelho. Meus traços do rosto são sombrios e delicados. Não entendo a combinação, porém gosto deles. Dou alguns passos para trás e ouço uma música calma e angelical, então fico curiosa e vou procurar sua origem. Vinha de um aparelho que nunca havia visto na vida, contendo botões que eu não fazia idéia da sua função, mas mesmo atenta e curiosa para apertar os botões, não aperto, pois a música está tão calma, tão tocante, que não quis interrompe-la. Quando percebo vejo que estou em uma biblioteca, onde só há livros antigos e prateleiras empoeiradas. E logo no centro há uma escrivaninha, com papeis envelhecidos e canetas modeladas. Com tanta paz que há em minha alma, veio a velha vontade de escrever, mas quando pouso a caneta no papel, minha mão começa a funcionar sozinha, saindo palavras que não vinham de meu consentimento. Então já que não faço posse de minha coordenação, começo a ler o escrito._Há dois dias houve um acidente na cidade de Jaboticabal, em uma casa nobre e bem respeitada pela população. Onde morava a escritora Faria. Morreu asfixiada por um gás e cauí sobre seus textos sombrios.

Ao término do texto fico sem compreender, como posso estar morta se estou aqui? Então me decidi por aposta ao espelho de novo e ali estou, com a aparência fria de minha memória; A que ficará posta para sempre.

Pamela Faria
Enviado por Pamela Faria em 07/10/2009
Reeditado em 09/10/2009
Código do texto: T1853809
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