Mary Lou

Ela não se lembrava quando tinha recebido aquele apelido, mas até gostava dele. Mary Lou. Sempre que dizia que a chamavam assim, começavam a cantar a famosa musiquinha da galinha. E ela ria, revirava os olhos.

Agora, não sentia vontade de rir quando lembrava daquelas cenas. Só sentia vontade de sumir, trancar-se num quarto escuro e ficar lá pra sempre.

Na verdade, queria mesmo é rebobinar sua vida, voltar no tempo e apagar a maior besteira que já fizera. E então não teria atirado tudo para o alto por causa do Marcelo. Não teria fugido de casa, nem teria brigado com os pais.

E não estaria ali agora, com uma barriga saliente e sem um rumo pra seguir, perdida pela vida.

Ela sabia que daqui a alguns minutos teria que ir para a lanchonete onde trabalhava e vestir o uniforme cor-de-rosa sujo e o avental encardido para atender as mesas dos clientes com um sorriso falso. E que depois ganharia alguns trocados e uns restos de comida. Assim como sabia que depois do expediente iria para o quarto pequeno e pobre numa pousada barata no subúrbio da cidade, onde dormiria sozinha e esquecida.

E sabia que no trajeto entre esses lugares todos os transeuntes olhariam para ela com pena, ou a evitariam. Provavelmente pensariam que ela era uma pobre coitada, tão jovenzinha e sem experiência e com aquele bebê prestes a nascer... Mas ela não tinha querido aquele bebê. Ele era um acidente... Um acidente que não tinha culpa por existir. E que provara que, na verdade, Marcelo não gostava tanto assim dela e que os dois não ficariam juntos para sempre como ele havia prometido.

Quando ela contou, receosa, sobre o bebê, ele disse que não estava pronto pra ser pai e foi embora. E a deixou sozinha, no quarto de pousada, com a companhia apenas do mofo e das baratas. Sem amigos, sem família, sem amor...

Mary Lou suspirou. Não sabia o fim daquela história, mas esperava que não fosse tão triste quando ela esperava. E passou a mão na barriga, coberta pelo tecido do vestido que ela usava. Seja lá qual fosse o desfecho de sua história, esperava que seu bebê fosse feliz. Esperava ser feliz... E vencer toda aquela tristeza que ia em sua alma agora.