VERSOS PARA A NETINHA

VERSOS PARA A NETINHA

Dona Belinha era uma figura diferente, mulher simples e de pouca cultura, mas cheia de idéias e uma delas era a certeza de ser poetisa, passava a maior parte de seu tempo livre, escrevendo poesias simples como ela; aluna da escola da vida, estava sempre procurando aprender alguma coisa nova.

Ela era autodidata, porque nunca freqüentou uma escola regular, mas era bem informada e gostava de citar grandes autores que eram também alunos da escola da vida e seu colega preferido era Machado de Assis, mas lia tudo que caísse em suas mãos e assim conseguiu uma cultura de almanaque.

Suas poesias eram sempre na base de rimas simples, como amor rimando com dor, ninho com carinho e por ai em diante, mas o importante para ela era o som das palavras; os aniversariantes da família recebiam poemas e acrósticos de presente, mas na verdade preferiam coisas com mais utilidade.

Avó dedicada e amorosa, Belinha esperava com ansiedade o aniversário de quinze anos da neta Lucinha e por coincidência o colégio onde a menina estudava, abriu inscrições para um concurso de poesias na mesma época; ela ficou no maior entusiasmo e passou vários dias na tarefa de escrever uma linda poesia.

O colégio era gerenciado por um grupo de exigentes freiras católicas, mas ela não se intimidou e enviou seu poema para o concurso, deixando claro que aqueles versos eram sua homenagem a adorada neta Lucinha; quando as freiras leram os tais versos, ficaram roxas de susto e imediatamente os desclassificaram.

Muito ofendida Belinha foi tomar satisfações com as mestras, que se defenderam dizendo: dona Belinha, seus poema é inadequado para mocinhas, a senhora escreveu no final: te agarro, e te levo pra cama, é um horror; ela não se deu por vencida e pediu a chance de retirar a malfadada cama do poema.

A contragosto as esposas de Cristo concordaram e ela reescreveu o ultimo verso, certa que ia ficar tudo bem, mas assim que leram novamente os versos, as freiras se

zangaram muito mais, porque a emenda ficou pior que o soneto, Belinha ingenuamente finalizou o poema dizendo: te agarro menina , te cubro de beijos e te levo pro motel.

Mais uma vez ela foi expulsa do concurso e não se conformava com a injustiça e dizia: não entendo essas freiras, elas não gostaram da cama e eu retirei, agora não aceitam o motel, assim não dá, elas querem acabar comigo essa é a verdade; implicância e inveja de quem não tem talento para versejar, só para rezar.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 13/10/2009
Código do texto: T1863939
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