Percival e a mulata elfo

Lá pelas três da tarde, Percival foi até a copa da repartição tomar o erdésimo café do dia e paquerar a auxiliar de serviços gerais, dona Edileuza, uma mulata de parar tráfego aéreo em época de ano novo. Foi se chegando como quem não quer nada, mas querendo tudo, pegando o copinho plástico com aquele charme peculiar aos arquivistas da secretária municipal de documentação obsoleta, olhar penetrante do homem de seis milhões de dólares, o Lee-alguma-coisa, quando não mais que de repente, dona Edileuza se transformou num elfo azul, bem ali na sua frente, como num clipe do Michael Jackson. Percival quase infartou, pensou em sair correndo, em gritar, em rezar o pai-nosso, chamar vovô Manuel de Aruanda, mas ficou foi paralisado. Nem piscar o homem piscava. Ficou ali, parado, vendo aquela criatura azul de orelhas pontudas, vestida com uniforme e aventalzinho branco. Até que o gelo foi quebrado.

_ Bom dia seu Perci – a danada da Edileuza o chamava assim só para provocar. Deseja um pretinho, ou prefere uma pretinha?

Percival achou a situação duplamente estranha, primeiro pelo óbvio, e segundo por que apesar da dona Edileuza lançar uns verdes para ele vez ou outra, jamais fora tão atirada, “prefere uma pretinha”? O que diabos era isso.

_ Bo...bom dia dona Edi, Edi, Edileuza. A senhora esta se sentindo bem?

_ Estou ótima seu Perci, o senhor que me parece meio nervoso.

Percival serviu-se uma dose dupla de café sem açúcar e tomou numa golada só. Ameaçou fazer o sinal da cruz na testa da Edileuza, mas não achou prudente, vai que ela torce o pescoço e vomita uma baba verde? E ele sem água benta. Conteve-se.

_ Sabe o que é dona Edileuza, e que... Estou tentando colocar a coisa de uma forma que a senhorita não se ofenda entende? Bom, é que a senhorita está...

_ Estou gorda? É o cabelo seu Perci? Essa maldita escova de chocolate, não presta pra nada. O que é seu Perci, me fala!

Percival não se agüentou, num arroubo de sinceridade olhou fundo nos olhos de elfo da dona Edileuza e soltou a bomba:_ Dona Edileuza, é que eu sou louco pela senhora, tomo tanto café aqui que acho que meu sistema nervoso tá precisando de um spa para reequilibrar os chacras, eu gostaria muito de convidar a senhorita para o pagode do Barnabé na sexta-feira, a senhorita topa?

Edileuza abriu um sorriso de um canto ao outro da boca, as pontinhas das orelhas abanavam que nem rabinho de cachorro. _ Claro seu Perci, nossa eu ia adorar, sexta então.

Percival, peito estufado, saiu da copa com aquele ar vitorioso que ostentam os homens que conquistaram grande batalhas e linda mulatas, mesmo as coloridas. Sairia com dona Edileuza finalmente. Pouco importava se ela tinha se tornado azul e com orelhas pontudas, de qualquer forma, ele sempre nutriu um fetiche secreto pela smurfett, melhor agora que ela tinha um metro e setenta. E afinal de contas, talvez ela nunca mais lhe desse um mole daquele, “prefere uma pretinha”?

CEVDM