NÃO SOU EU

NÃO SOU EU

Os primeiros fotógrafos foram os aborígines, que desenhavam suas pinturas rupestres em suas cavernas e nas pedras de seu caminho; eram na verdade mais pintores que fotógrafos, mas na falta das fotografias, elas serviam para registrar suas memórias e resistem até os dias de hoje, contando historias.

Depois vieram as primeiras maquinas fotográficas, com um pesado tripé e uma caixa coberta com um pano, onde o fotografo escondia a cabeça, ajeitava a pose e depois saia do esconderijo, apertava um botão, se ouvia um estouro e pronto, estava feita uma foto em preto e branco, em um papel grosso e amarelado.

Com o tempo passando, as maquinas pesadas foram se transformando em peças modernas, leves, rápidas e coloridas; hoje as modernas fotos são lindas e não mostram nenhuma imperfeição, isso é bom por um lado, mas por outro fornece grandes decepções, porque essas fotos não escondem pessoas feias.

Alguns anos atrás , na cidade de Rio de Pedras, só tinha um fotografo e a bem da verdade não era nada bom em sua profissão, mas como era o único, o jeito era agüentar seu mau jeito e ele fotografava todos os eventos da pequena cidade e era sempre o mesmo desastre; suas fotos eram feias demais.

Mas de um jeito ou de outro, o famigerado fotografo Zolato ia se defendendo apesar das reclamações que recebia diariamente, sua única vantagem era sua paciência e boas maneiras, porque ele nunca se ofendia com as criticas a seu trabalho; sorria sempre, se desculpava e ia levando a vida dia a dia.

A cidade tinha moças muito bonitas, o que tornava as fotos de Zolato aceitáveis, mas sempre chega o dia do desastre e ele se deu mal com a solteirona Corina, porque além de feia ela era malcriada e estava sempre pronta para brigar e de repente ela resolveu tirar uma foto, para enviar para um primo também solteirão.

A velhota vestiu seu melhor vestido, amarrou as tranças do cabelo com laços de fitas vermelhas, passou pó de arroz no rosto, se perfumou com Alfazema e procurou Zolato para a foto, ele preparou a pose da velhota com um ramo de flores nas mãos, acionou a velha Kodak e pronto, estava feito o esperado retrato.

Profissional vagaroso, Zolato só entregou as fotos a Corina duas semanas depois e a velha teve um ataque de fúria ao ver o resultado, ela gritou, xingou e partiu para cima do fotografo, foi contida pela família, que queria saber a causa daquele escândalo e ela disse: essa mulher não sou eu, está feia demais.

Zolato se zangou também e pediu seu pagamento, Corina se recusou a pagar e exigiu nova sessão de fotos, porque ela queria ficar bonita para impressionar o primo e talvez conseguir um marido, mas o lambe-lambe encerrou o assunto dizendo: essa ai da foto é você mesma, faço retratos e não milagres; não pague sua bruxa, mas com essa cara morre solteira.Pena que não existia fotoshop ainda.

Maria Aparecida Felicori { Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 08/11/2009
Código do texto: T1912195
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