"O PALETÓ DO SEU MARIDO" Conto de: Flávio Cavalcante

O PALETÓ DO SEU MARIDO

Conto de:

Flávio Cavalcante

A unidade do corpo de bombeiros é considerada como os nossos anjos por salvarem vidas. Podemos dizer que são verdadeiros heróis de batalha na categoria de amar ao próximo.

Numa corporação sempre tem um soldado que se destaca dos outros, chamando a atenção dos seus superiores. O soldado Matias tinha essa fama de ser aquele cara exemplo e era citado como o cara que os outros deveriam se espelhar.

Matias era rigoroso com ele mesmo, quando se tratava dos afazeres da corporação, ele vestia veemente a camisa com honra, assim como um bom cidadão ama a sua pátria.

Um belo dia era uma tarde de domingo. Por volta das 14:00 hs, o sinal de alerta foi ativado. Um prédio estava sendo lambido pelo fogo bem no centro da cidade. Dentro da corporação foi aquele corre-corre. Puseram as roupas adequadas para aquele momento e todos montaram no carro que saiu ás pressas fazendo o maior estardalhaço com suas sirenes acionadas.

O soldado Matias estava em folga obrigatória neste dia, pois devido a ele ser bastante rude com o seu lado profissional, não se preocupava em sair na hora certa no final de seu expediente e a quantidade de horas extras devida pela corporação era imensa. E a corporação resolveu deixá-lo descansando para descontar esse número de hora a mais. Ele não sabia nada do que estava acontecendo.

Finalmente os soldado conseguiram chegar no local do acidente. As chamas estavam por todo o prédio e o cenário de terror era estampado na face dos moradores que não conseguiam sair. O fumaça espalhou-se por todo o prédio. Pelos gritos de horror, se via o desesperos dos moradores.

Jatos d’água em ação na tentativa de controlar as chamas, mas acabou sendo em vão e o tenente resolveu chamar mais reforço.

Com pouco tempo, chegou mais carros de bombeiros para uma ajuda contundente.

Um dos soldados avisou que no último andar do prédio havia um homem trajando um paletó preto, querendo pular. Vendo aquela situação o soldado chamou a atenção dos colegas, que ficaram tentando ver se ele não fazia a tal barbárie. Tentaram de várias formas para conter o cidadão, que se apresentava cansado e tossindo muito com o efeito da fumaça. Usaram escadas para dar prioridade ao seu resgate. Chegaram até conversar com o cidadão pedindo pra ele ter um pouco de paciência e calma, que eles iriam salvá-lo.

O homem estava desesperado. Tentou de várias formas se agarrar em pilastras; mas isto numa altura homérica. A atenção estava voltada pra ele; enquanto uma outra equipe salvava a vida dos outros nos apartamentos de melhores acessos. O calor era intenso, mas para salvar vidas estes homens, preferem perder a própria vida deles em proll de salvar ás vítimas.

De repente a chama aumentou e houve uma explosão bem próximo onde o homem que estava tentando pular se encontrava. E daí não teve jeito. Ele não conseguiu superar o pavor e acabou dando o alce para os braços da morte. Tentaram socorrer, mas foi em vão. O homem já chegou morto assim que chegou ao chão.

Os bombeiros salvaram a todos do prédio e um vizinho que conhecia a vítima fatal, falou que ele estava na casa de uma amante e era amigo dele desde criança.

A mulher dele não sabia do envolvimento dele com a tal amante que se salvou das chamas. Teve apenas queimaduras leves.

O relato do homem foi impressionante. Disse que a mulher dele era cardíaca e que estava grávida de seis meses. Segundo ele, ela achava que o dito morto era um cara exemplar e falou que não ia se submeter em ir à casa do falecido para dar a triste notícia a sua esposa, devido ao estado dela.

No dia seguinte o capitão da corporação convocou uma reunião e pediu inclusive a presença do soldado Matias, dando esta incumbência dele ir dar a notícia á mulher do falecido.

Missão muito difícil, mas segundo o capitão não via outra pessoa mais ideal que não fosse o soldado de confiança da corporação que havia mostrado com o seu conteúdo profissional, sendo exemplo perante os colegas. E disse que na volta dele, ele mesmo ia contar como falou e a reação da mulher ao saber da notícia nada agradável. Com certeza brilhantemente. Matias recebeu todas as instruções e o capitão fez questão de levar o soldado para ver o defunto até para o teatro ser mais original, podia ser que ele precisasse falar que de alguma forma o conhecia. O homem estava ainda com o paletó.

Assim foi feito. Segue o soldado Matias para a tal residência do homem. Assim que chegou, apareceu a mulher realmente grávida.

- Posso falar com a senhora, só um instante? (Pergunta o soldado meio sorridente para não transparecer tristeza).

• Claro! Se não for me vender alguma coisa, pode ficar á vontade... (Retruca a mulher sem ainda entender o que estava acontecendo).

- Vim aqui tratar um assunto referente ao seu marido...

• Pois não... Ele saiu pra trabalhar e até agora não voltou...

- Estou vim aqui para lhe dizer... Que o paletó do seu marido caiu do último andar de um prédio lá no centro da cidade... (Ela inocentemente retrucou aliviada).

• Ainda bem que não foi ele... (Responde a mulher sorridente).

- É mas o pior é que ele tava dentro... (Respondeu o Matias fazendo o maior teatro. A mulher desmaiou na hora. Foi levada ás pressas para o hospital, entrou em coma e perdeu a criança. E o soldado Matias foi preso e condenado por ser o causador da situação que a mulher estava passando por causa de sua forma de dar recado).

NEM TODO BOM PROFISSIONAL É BOM EM TUDO NA VIDA

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 10/11/2009
Reeditado em 10/11/2009
Código do texto: T1915137
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