NÃO ERA SURDO ERA CHATO

NÃO ERA SURDO, ERA CHATO

As pessoas vem e vão na eterna dança da passagem por esse mundo e são sempre diferentes umas das outras, mas deixam sempre sua marca de uma maneira ou de outra; alguns são agradáveis, gentis e por isso são apreciados e sempre requisitados e festejados, mas outros são aborrecidos, maldosos e são detestados.

Celestino Silva, era parte ativa das pessoas realmente insuportáveis, era fofoqueiro, desonesto, cachaceiro, péssimo marido e um pai descuidado e gostava de procurar brigas, mas ninguém entendia porque fazia isso, pois em todas as arruaças que arranjava sempre levava a pior parte, apanhava sempre e muito.

Com o apelido de Xexéu, o nome próprio da figura foi esquecido para sempre, mas a criatura nunca foi esquecida por causa de seus maus arranjos e uma coisa que irritou toda sua vizinhança, foi quando ele conseguiu comprar um radio, que ficou na historia da Vila de São João como um tormento coletivo e inesquecível

Naquela época um aparelho de radio era coisa muito rara, poucas pessoas tinham a posse de um e de um jeito ou de outro o desagradável Xexéu apareceu com um, daqueles que pareciam uma cabana e que mais chiavam e roncavam do que falavam, mas era um cobiçado radio e causava inveja em muitos.

Durante um tempo Xexéu parou de aborrecer as pessoas nas ruas, porque ficava o tempo todo dentro de sua casa, com o amado radio ligado, o que foi um alivio para toda a comunidade, mas todos sabem que coisa boa dura pouco e foi assim mesmo que aconteceu, porque Xexéu se cansou de ficar em casa.

Ele morava em uma esquina na subida do Cruzeiro e do outro lado da ruazinha, morava o Quincas Neto, que tinha uma venda de secos e molhados na parte de frente de sua casa; Xexéu visitava a venda do vizinho o tempo todo, não pelos secos, mas sim pelos molhados, principalmente a cachaça e também as fofocas.

Criou-se um dilema para Xexéu, ele queria ficar na venda bebendo e conversando fiado, mas queria ouvir seu radio também e encontrou a solução bem assim: ligava o radio com o som na maior potencia, colocava na Radio Nacional, atravessava a rua e lá ficava bebendo sua cachaça na venda e ouvindo as noticias.

Os vizinhos agüentaram por uns dias aquela barulheira infernal, mas perderam a paciência e foram pedir ao inconveniente Xexéu que respeitasse o direito dos outros, mas ele não atendeu e ainda disse que eles estavam com inveja, porque só ele tinha um aparelho daqueles naquela rua, foi ai que se deu mal.

Os afrontados vizinhos não deixaram por menos: invadiram a casa de Xexéu, agarraram o radio, jogaram no chão, pisaram em cima, jogaram álcool e tocaram fogo; ele avançou neles e levou uma surra histórica, ficou de cama vários dias se recuperando dos ferimentos, mas a pior dor era a falta do radio.

A paz voltou na vizinhança, porque agora ninguém tinha aparelho barulhento para atormentar e quando Xexéu apareceu na rua não tocou no assunto, ficou satisfeito com o prejuízo e a surra que levou, mas deixar de ser chato e encrenqueiro ele não deixou, porque isso era parte de sua natureza e era impossível mudar.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 18/11/2009
Código do texto: T1930301
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