SONO LEVE

SONO LEVE

O sono leve de Jaciara era um tormento para ela e para seu marido Anacleto, porque o menor ruído, fazia com que ela despertasse e o acordasse para ir verificar o que estava acontecendo, ele ficava furioso com aquela mania da mulher; depois de um dia inteiro de trabalho pesado, ele só queria dormir em paz.

Para complicar a situação, dona Cesárea a mãe de Jaciara morava com o casal e acordava enfurecida com o noturno bate boca deles, mas sua fúria era contra o genro, porque ela achava que ele era grosseiro e não compreendia a insônia de sua adorada filhinha; o resultado disso tudo, era que Anacleto odiava a sogra.

As brigas noturnas passaram a ser também diurnas, pois o dono da casa queria que a velha Cesárea se mudasse, mas Jaciara era filha única e a criatura não tinha para onde ir e isso piorava ainda mais a encrenca, ela pedia a mãe para não se intrometer em seus assuntos particulares com o marido, mas não adiantava.

Era a guerra total e pelo jeito Anacleto estava perdendo todas as batalhas, mas de repente um acontecimento absurdo e desumano resolveu a caótica situação e foi bem assim: em uma noite de inverno, Anacleto e Jaciara se recolheram logo depois do jantar e ficaram conversando sobre seus problemas diários.

O silencio era total, porque moravam em um sitio afastado alguns quilômetros do centro da Vila de Santa Quitéria, porque eram criadores de suínos; de repente os porcos começaram a guinchar e a correr dentro do mangueiro e o casal saiu depressa para ver se tinha alguém tentando rouba-los.

Com a claridade do lampião, eles viram uma cena horrorosa: os porcos estavam brigando por causa de uma criança, que disputavam aos guinchos, pensando que aquilo era comida; o casal munidos de pedaços de madeira entraram no mangueiro e conseguiram retirar o neném vivo, mas cheio de mordidas.

Muito assustados, viram que se tratava de um menino mulato recém nascido, ainda com um pedaço do cordão umbilical; deixando a criança aos cuidados de Jaciaria e de sua mãe, Anacleto foi a vila buscar ajuda médica e a policia, para investigar o terrível caso, mas tudo foi esclarecido antes de sua volta.

Os poucos empregados do sitio também vieram correndo saber a causa do alvoroço, menos Naninha a cozinheira, desconfiada dona Cesárea foi procura-la e a encontrou limpando o quarto que estava sujo de sangue, sem outro jeito ela confessou que o menino era dela e por medo de perder o emprego, fez aquele horror.

Quando Anacleto voltou com a policia, ela confessou que como era muito gorda ninguém percebeu a gravidês, fez o parto sozinha e jogou o menino para os porcos, para se livrar de encrencas e de ter que dar explicações, porque o pai da criança era casado e também não queria perder o emprego de jeito nenhum.

Ninguém aceitou suas explicações e além de perder o emprego, foi levada presa para a vila; o menino ficou com os donos do sitio, que não tinham filhos e com ele veio a paz, porque Juciara, o marido e dona Cesárea, passaram a se ocupar só com ele e deixaram de lado as insônias de Juciaria; o menino foi criado com amor e se tornou um bom cidadão.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 18/11/2009
Código do texto: T1930322
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