TOMBO
Cap III
 
A ZONA
Continuação
 
Antes de subir para minha casa caiada de branco e janelas azuis, parei para conversar com Dona Maria, que morava em um casebre “quase perto” da Zona.
Creio que o proprietário anterior mantinha aquela senhora no quintal na intenção de evitar que folgados de todos os gêneros extrapolassem as regras de boa vizinhança, não bastasse uma parte da casa da Tia Lica.
Como bom descendente de alemães, o Sr. Leopoldo cultivava toda a área. Era lindo apreciar o pequeno cafezal e muitas frutas, além de urucum e limões.
Ele havia me dito que sua subsistência saía dali.
 
Dona Maria era o capricho em pessoa.
Tudo se via nos canteiros ao redor do casebre, de verduras a plantas medicinais.
Plantas que eu só conhecia de nome estavam ali à minha disposição, segundo ela, para curar todos os males.
Tomei do seu café e fui fazer o meu, devagarinho, pensando em como seria viver em Vitória, de Segunda a Sexta.
Aquele cheiro de verde ao som do canto dos pássaros me encantava.
 
O problema era a Zona.
 
Não me lembro como foi, mas alguém me convenceu a manter um caseiro para cuidar das plantas e mostrar que o Sr. Leopoldo havia se mudado para Guriri, mas a Chácara tinha dono.
Pior : Dona.
 
Como por encanto apareceu por lá o Sr. Francisco, ex-meeiro do Soquim, apelido do Joaquim Barbosa.
Era um senhor com mais de 70 anos e estava aposentado porque um espinho de laranjeira atingira seu olho.
Não pensei muito e o contratei imediatamente ao perceber que era firme e sua pessoa impunha algum respeito.
Cuidou da Chácara da melhor forma que poderia cuidar.
Fez horta, criou porco, galinhas, codornas, pescava e me trazia peixinhos do Rio Panquinhas.
Contava “causos” quantos lhe fosse permitido.
Ia tudo muito bem.
Eu estava feliz, apesar do incidente inicial, e muitas vezes comemoramos Natais e Feriados com meus amigos e amigos de minha família.
 
Um dia acordei com um telefonema anônimo.
Do outro lado da linha uma pessoa me informava que o Sr. Francisco estava levando mulheres da casa da Tia Lica para a minha casa...
 
Que merda, hein ?!
Só me faltava essa.
 
Por via das dúvidas resolvi chegar de surpresa para certificar-me da fofoca.
Cheguei em horário não habitual e encontrei o Sr.Francisco descansando sob uma goiabeira, com o enorme chapéu cobrindo o rosto.
Fui franca e perguntei sobre a tal conversa anônima, ao que ele não negou, dizendo-me que umas amigas dele que trabalhavam na Tia Lica iam lá sim, mas somente para pegar cebolinhas e outros temperos ... Que ele não via nada demais em dar as verduras para elas !
 
Puxa vida !
 
Na verdade, o que as amigas dele queriam não importava muito. Importava, porém, que ele não poderia recebê-las, ora essa !
 
Infelizmente não pudemos comungar da mesma ética e preferi dispensar seus serviços, embora reconhecesse sua presteza.
 
Mas não sei, e penso que jamais sabere,i se foi uma decisão acertada dispensá-lo, pois daí em diante o item caseiro não seria tão simples de ser resolvido.
Conhecia o tema.
Sou filha de proprietário rural.