"A APARIÇÃO DE IRENE" Conto de: Flávio Cavalcante

A APARIÇÃO DE IRENE

Conto de:

Flávio Cavalcante

Toda cidade de interior carrega toda uma essência de fatos com glamour, que enriquece qualquer obra de autores que escrevem teatro, televisão, jornais e etc.

Figuras marcantes e conhecidas são apreciadas por pelos grandes escritores, tipo um bêbado, um carroceiro, um padeiro, enfim algum personagem que de uma forma ou de outra faz algo de diferente e por isso todos o conhecem.

A história que aqui relato, apesar de sobrenatural foi um fato conhecido no lugar. Na época eu tinha apenas seis meses de nascido e meus pais moram lá. Inclusive meu pai era soldado telegrafista da polícia militar do lugar e depois da catástrofe, foi ele quem encontrou o corpo da protagonista de nossa história, já em estado de putrefação.

Irene, assim como o povo lajense a chamava, foi uma vítima da catástrofe de 14 de Março de 1969, ela foi encontrada depois de vários dias do acontecimento e enterrada no local em Cruz Verde, sítio localizado abaixo do matadouro da cidade, próximo a residência onde ela morava; pois, o seu corpo já estava em estado de putrefação.

Irene era uma mulher bonita e todos a conheciam na cidade por ela se vestir muito bem. Cuidava do seu corpo, como toda mulher vaidosa. O que mais chamava a atenção na moça era que ela adorava usar unhas enormes e bem cuidadas.

Ela tinha um irmão chamado de Jeová e estava hospitalizado no hospital dos usineiros em Maceió. Vítima de arma branca, causada numa briga com amigos dentro de um circo que visitava a cidade. O estado do rapaz era grave e estava bastante febril sob cuidados médicos. Na véspera da catástrofe, os pais de Irene acordaram com um mau pressentimento. Falaram em pesadelo com morte de todos e queria a todo custo ver o filho que estava num hospital na capital, já que eles moravam no interior.

Atendendo as lamúrias dos pais, Irene resolve ir a Maceió pegar o irmão, para os pais vê-lo, já que era um fim de semana. Irene foi a Maceió de trem.

Chegando no hospital, os médicos não quiseram liberar o rapaz, pelo estado de saúde dele estar muito precário. Irene ficou desconsolada e nervosa, pois não podia voltar pra casa sem levar o Jeová. Depois de tanta insistência, Irene teve que assinar um termo de responsabilidade livrando o hospital de qualquer ônus, caso houvesse alguma coisa de emergência com o rapaz.

O destino parecia reunir a todos para morrer naquela noite. Trouxe o Jeová para os pais para receber a última bênção de sua vida. E na noite todos dormiam quando as águas invadiram a cidade trucidando a todos. Foi realmente um golpe do destino. Todos morreram. Irene só foi encontrada depois de vários dias a quilômetros de distância do local onde ela morava.

Eurenides era morador na cidade e muito amigo de Irene e tem dois irmãos, Severino e Evandro; ambos moram hoje em São Paulo e não temos informações de qual deles realmente foi o vidente; mas podemos afirmar que se trata de uma história piamente real, por isso vamos tratar como o irmão de Eurenides.

Ele passava por ocasião no local onde se encontram os restos mortais de Irene e de repente ao olhar distante, viu algo estranho se aproximando dele; era uma mulher, mas até então não a havia reconhecido até quando ela se aproximou. A cabeça do rapaz ficou meio atordoada diante de tanta gente ter morrido alguns dias atrás, e ele mesmo sabendo que Irene estava morta, se aproximou dela, até porque estava muito real diante dos seus olhos, era carne e osso e segundo ele, se estivesse sonhando tudo bem, mas era dia e estava vendo a olho nu. Aproximou-se dela feliz, dando graças a Deus, que ela estava viva. Disse para a moça de unhas bem feitas e vestes leves; “Irene, e você não morreu na cheia?” Disse Irene, meio sorridente “Eu morri? Não... Ninguém me vê; mas eu vejo todos e tudo que está se passando” Ela sumiu diante dos olhos do rapaz, o qual arregalou os olhos de medo; a carreira foi de grande quilate, chegou em casa quase sem fala, arfando, que parecia que estava com problemas cardíacos. Depois de algumas massagens foi que ele conseguiu contar o que havia visto.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 24/11/2009
Código do texto: T1940864
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