Subexistência

Os passos dele, sorrateiros, rangeram as tábuas do assoalho.

Enfim veio, depois de longos e silentes dias.

Talvez houvesse esperança, ela para si dizia.

A chave retrai a tranca, a porta se abre em ruído.

Deitada nua, um sono fingido, para ser despertada a beijos.

Brincadeira de amantes, que tanto prazer lhes dera.

Mas já não havia beijos... Nem carícias, nem carinho.

Tomou-a porque ainda era sua, para usar como quisesse

E, saciado, acariciou-lhe a cabeça, como a um animal obediente.

- Você me serviu bem.

E a mulher riu de si, por ter pensado q era gente.

Já da porta lhe disse, com voz suave e fria:

– Prepare suas coisas, cedo vamos à feira.

Ela lhe procurou os olhos.

Não havia nada lá. Nada além de vazio.

Acenou com a cabeça, mas não baixou o olhar.

Ele se voltou e saiu,

E ela não permitiu mais que uma lágrima rolar.

E lá está ela na feira, de bonito vestido branco

Rápida negociação, um novo dono.

Ele aperta suas carnes e se ri contente

Fez excelente negócio!

Uma bela e saudável crioula

Com um crioulinho em seu ventre.

Maria Buluca
Enviado por Maria Buluca em 25/11/2009
Reeditado em 27/11/2009
Código do texto: T1942771
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