O VERDADEIRO ALIMENTO

A menina agora corria ofegante em uma vegetação de cerrado, virgem, cheio de mistérios e sombrios monstros que sua imaginação formava em meio a um sentimento de horror, banhada de lágrimas e um coração apertado de tanta dor.

Parava então de correr e começava a caminhar devagar, pensativa, certa que não voltaria mais para junto daqueles que se irritavam ao vê-la crescendo tão forte e inteligente.

Estava caminhando para o sucesso nos estudos e cheia de sonhos. Sonhava que um dia iria contribuir com o pai para provimento das despesas, pois sabia o quanto ele sofria para manter tantos filhos.

Sua mãe não compreendia toda a ânsia de vencer e dizia que acabaria em um sanatório de tanto estudar.

Por vezes a trancafiava no quarto, em dia de prova, para não conseguir seu desiderato de passar direto, sem precisar fazer recuperação.

Seus irmãos a odiavam por sempre estar à frente deles, intelectualmente. Por isso, a desprezavam.

A irmã mais velha sempre a tirava das rodinhas de amigos e a fazia sentir um verme.

Começou seu projeto de apoio ao provedor patriarca, dando aulas particulares ao filho de uma vizinha que dava trabalho no colégio. Logo o menino começou a desenvolver e tirar notas boas.

Assim começou a ganhar uns trocadinhos. Fora algumas faxinas que fazia nas casas de outras vizinhas.

Pensativa, a menina caminhava. As lágrimas começavam a secar e uma luz acendera no fundo da sua alma.

Organizando melhor as idéias, entendeu que a dor, os obstáculos, e principalmente o amor que sentia por aqueles que a faziam sofrer era tudo que nutria uma guerreira.

Fugir para lugares incertos em nada iriam fortalecê-la ou contribuir para atingir o que ela pretendia.

E se alguém fizesse um mal ainda maior a ela?

Poderia até morrer e, então, seria apenas mais uma coitadinha a sete palmos do chão.

Tomou o rumo de volta para casa sem lágrimas, sem rancor, sem qualquer mágoa.

Ressurgia mais forte e mais sábia. Prometera no fundo do coração que jamais se deixaria afetar por sentimentos mesquinhos e que seguiria o exemplo daquele que poucos conhecem.

Gostava de ir à igreja e aprendeu muito a respeito de um grande Mestre dos mestres (Jesus Cristo). Com o tempo foi percebendo que muitos falam desse grande mestre sem nada entender de suas verdades. Falavam com ousadia como se fosse um amigo íntimo, mas as atitudes denunciavam tamanha ignorância sobre os seus reais princípios.

Aquela pequena guerreira aprendeu que a arma do perdão e do amor é que iriam servir para colocá-la onde ela queria ficar. Acima dos medíocres , dos rancorosos, desanimados e preguiçosos.

Então a menina se formava guerreira, convivendo com aqueles que pareciam monstros, domesticando um a um com atitudes de sabedoria, apegada sempre ao princípio do amor verdadeiro.

Desse marcante e reflexivo passeio, retorna àquela casa que agora era vista como uma academia.

Embora já muito tarde da noite, nada perguntaram e todos pareciam lançar olhares desafiadores. Foi ao quarto se deitar, envolvida em pensamentos pragmáticos, fazendo estratégias de vida dali pra frente.

No dia seguinte, ouvia piadas e muitas gargalhadas:

- Então... alguém parecia tão decidida... estava farta de tudo... aposto que o estômago gritou implorando pra que retornasse...

Mal sabiam que o verdadeiro alimento que faria daquela menina uma grande guerreira estava sendo servido naquele exato momento.