A Decisão

Quase trinta anos haviam passado. Nunca mais ouviu falar ou soube noticias. Assim decidira. Acreditou ser a única maneira de viver sem preocupações.

Há oito anosatrás divorciou-se de sua esposa, deixou família, trabalho, amigos, parentes o passado, tudo.

Não o reconheceriam agora. Fazer a barba, cortar cabelos, andar sempre limpo e bem vestido, preocupado com a aparência, fôra o seu normal, o natural fazia parte do seu jeito de ser.

Um belo dia decidiu jogar tudo pro alto e sair andando, literalmente, sem preocupações apenas pegou o carro e foi dirigindo, por mais de um mês, parando aqui e acolá, sem rotas e programas pré- estabelecidos.

Até que parou em uma cidadezinha, zinha mesmo. Chegou ao anoitecer. De cara adorou. Um rio margeava a avenida principal, belas praças, gente a pé e a cavalo, de carroças também.

Dormiu na cidade.

Dia seguinte acordou e foi procurar um lugar onde pudesse morar. Encontrou uma casinha linda, num terreno espaçoso, parecendo uma pequena chácara, com varias flores e pés de frutas, algumas verduras também. Fechou negócio. Ficou com os moveis. Na cidade adquiriu o resto do que precisava.

Pronto, poderia tocar a vida e fazer o que mais gostava exercer a sua profissão: Escritor.

No começo foi difícil a adaptação. Agora acostumado, adorava a quietude, a paisagem bucólica e pacata do lugar. A vida aqui fazia muito bem a ele, até engordou, coisa mais que rara.

De vez enquando sua família vinha visitar, até a ex-esposa que sempre na hora de ir, pedia para ficar mais um pouco, gostava dela mas, sempre disse não.

Não possuía internet nem telefone, para poder telefonar tinha que ir à cidade. Internet, nem chegava perto.

Tinha se tornado um escritor de sucesso mandava tudo pelo correio. Nem conferia, seus filhos é que cuidavam de tudo, contas e depósitos no banco para suas necessidades.

Até o dia em que vindo ao correio passou em frente a uma loja, onde uma faixa anunciava: "Lan house recém-inauguração". Entrou por curiosidade, resolveu sentar e acionar uma das maquinas.

Surpreso verificou que seus escritos ainda estavam lá. Releu alguns lutando contra um sentimento querendo dominar e vencer toda vontade que por tanto tempo conseguira conter.

Resolveu deixar-se vencer e começou a teclar. Adorou a sensação. Há tempos não sentia o prazer de bater um papo com alguém pela internet. Encontrou vários amigos e amigas, algumas de passado marcante em sua vida. Quase todas casaram, algumas eram vovós outras viúvas ou divorciadas, aparentemente estavam muito bem, para dizer a verdade ótimas.

Sem que percebesse com uma delas ficou horas teclando, os mais variados assuntos. Quando se despediram, foi como deixar a namorada na porta de casa sem um beijinho sequer.

Foi embora louco de vontade do dia passar rápido e amanhã voltar.

Assim fez a semana toda.

Ela morava na praia. Divorciada. Lembrava muito dela, pequenina tipo mignon, delicadinha, parecendo uma bonequinha, loirinha de olhos azuis e pelas fotos, só tinha melhorado. Era uns quinze anos mais nova que ele.

Mandou instalar tudo o que tinha direito em casa, telefone, internet, TV a cabo, tudo.

Agora poderia falar com ela a todo instante e vê-la pelo monitor. Nem escrever conseguia mais a não ser para ela ou sendo ela o motivo de seus escritos.

Estava apaixonado. Ela também assim parecia.

Só existia uma duvida se ele mudaria para a praia ou ela para o interior.

Bom, adora o mar.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 08/12/2009
Reeditado em 08/01/2011
Código do texto: T1967476
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