Reptilia
Era amizade. Sentia que era amizade. Mas o que poderia fazer se queria mais? Estavam sempre juntos. Amava. Desejava. Queria sentir o toque, o cheiro, a cor... Continuava sendo só amizade. Até que decidira mudar. Era melhor um não que uma dúvida. Preferia um fim a uma espera. Num dia como outro qualquer pegara suas mãos. Arrastara-o. Encostara-o na parede. E assim, lhe roubara um beijo. Apaixonara-se pelo sorriso tímido e pelo olhar inocente. Não lhe fizera justiça. Imaginara o calor, a pele, mas nem em seus maiores devaneios o beijo fora tão bom. Os lábio macios. A língua voraz. A respiração irregular. Mãos exploradoras. Corpos unidos. E acabou cedo demais. Tudo acabou. Não mais olhares. Não mais palavras doces. Nem companhia. Nada mais. Enquanto vivera seu êxtase, buscara apoio nas palavras toscas de Julian Casablancas. E quando acordara para realidade, deixara ecoar as mesmas melodias sublimes para ocupar aquele lugar vazio.