Adoção

Casados a mais de dez anos e sem filhos. O único casal da numerosa família, que não teve filhos. Suas irmãs e irmãs diziam ter inveja deles, podiam fazer o que bem entendessem viajar, passear, sair para um cinema, teatro, jantar em qualquer restaurante ou boate, namorar podendo gemer e fazer ruídos à vontade, sem se preocupar aonde deixar seus filhos ou com quem.

Eles apenas sorriam, enquanto observavam seus sobrinhos, correndo pra la e pra ca, os adoravam como filhos, mas não eram seus.

Pouco a pouco, as viagens, os passeios, as festas, jantares, teatros, cinemas, tudo foi ficando meio vazio, sem graça, incompleto. Começaram a se irritar por quaisquer coisas um com o outro. Ela tinha crises de choro intermináveis, tristezas de dias. Ele cada vez mais chegava tarde a casa, quando nada tinha para fazer, ficava rodando de carro por horas, esperando o tempo passar e encontrar ela dormindo, quando em casa chegar.

Do jeito que estavam, acabariam se separando, pior odiando um ao outro.

Sua cunhada, mais próxima a eles, percebeu que algo ia errado, aliás, a família toda. Sentiram que alguma coisa faltava na vida deles, uma criança, todos sabiam que não podiam ter filhos, nem mesmo por inseminação artificial, então por que não adotar, propôs.

Engraçado, nunca antes pensaram nisto, apesar de conhecerem casais que tinham feito a adoção de crianças e se dado muito bem. Sorriram um ao outro pela primeira vez há dias.

No dia seguinte, seguindo orientações de sua cunhada, foram até um juizado da infância e juventude, aonde prestaram os mais variados informes sobre a vida de ambos e do por que desejar adotar uma criança e os dados preferenciais, sexo, idade, cor, ao final receberam os informes de como proceder para realizar a adoção o dia em que assim decidirem também endereços de locais aonde ir para escolher a quem adotar.

Com o passar dos dias, a ansiedade foi crescendo, ligavam todos os dias, varias vezes por dia. Até que foram convidados a irem a um determinado lugar. La chegando, ficaram sabendo ser uma instituição, que recolhe menores abandonados desde bebes. Quando entraram, ficaram mudos, estupefatos, um monte de crianças de todas as cores, sexo, algumas de berço, outras engatinhando, outras pouco maiores, todas com aquele olhar guloso por carinho, por amor, as mãozinhas estendidas querendo pegar.

Não saberiam dizer quantas no colo pegaram, a quantas afagaram, acarinharam, abraçaram, beijaram. Queriam ficar ali, para sempre. Foram embora como se tivessem acabado de chegar, querendo voltar. No caminho, emocionados, quase não falaram.

Ao chegarem a casa, já tinham tomado uma decisão, discutiram apenas sobre uma coisa, ficar no apartamento ou vender e comprar uma casa. Estavam tão felizes quanto ansiosos.

No dia seguinte La voltaram. De novo passaram um dia maravilhoso. Assim foi a semana inteira. Não queriam mais fazer outra coisa. Conheciam as crianças pelo nome.

Após quase um mês, no último dia de uma das semanas, a direção do lugar mandou chamá-los, assim que chegaram. Perguntaram como estavam se sentindo e se já tinham escolhido, alguma das crianças. A ficha caiu. Esqueceram deste detalhe, tinham que escolher uma, apenas uma das crianças.

Não, não tinham escolhido a nenhuma. Como escolher, vamos levar a Martinha e deixar a Soninha, o Pedrinho e deixar o Fabinho, ou então a Laurinha e deixar o Toninho. Como? Escolher a quem levar e a quem deixar.

A direção pediu que enquanto não tivessem tomado uma decisão, não voltassem.

Foram embora, tristes e revoltados. Aquelas crianças já tinham sido abandonadas uma vez, não permitiriam que fossem novamente. Lutariam por elas.

Colocaram a família toda atrás de uma solução. Venderam o apartamento. Compraram uma espécie de chácara. Reformaram. Até um parquinho cheio de brinquedos, um pomar e uma pequena horta, construíram. Aumentaram o numero de banheiros, o tamanho da cozinha.

Fizeram até cursos de puericultura e culinária.

Quando entraram com o pedido de adoção, o Juiz espantou-se com o numero de crianças, mais espantado ficou ao ler o nome de cada uma delas, eles não se esqueceram de nenhuma.

A Batalha foi grande, mas venceram. A família e a felicidade deles, só aumentaram.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 12/12/2009
Reeditado em 01/01/2010
Código do texto: T1974526
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