Conto solitário de um qualquer

Vejo-me sozinho, em um quarto frio, escuro, sem vida, apenas seres inanimados que persistem em se esvair da minha mente para o mundo exterior. Nada mais é como antes, perdi a minha candura ao crescer e me revelar um homem formado, com insinuações de pêlos no rosto, mãos rígidas, corpo formado, olhar vago e perdido na solidão.

Será o destino tão cruel ao transformar pequenas crianças inocentes em seres robotizados e influenciados por um monstro maior, que as engole, e as cospe como projetos recém-fabricados? Será que todos passam por isso, mas quando acordam, vêem que já é tarde demais?

Pensamentos fogem, retornam, me deixam sem um rumo retilíneo, me fazem pensar daqui a quarenta anos, será que ainda vou estar vivo? Vai haver alguém para me mostrar como a vida é boa e cruel? Haverá alguém capaz de personificar a pessoa perfeita, nem que seja por cinco minutos, enquanto me regozijo com minha falsa esperança de um mundo melhor?

Não. Melhor parar de pensar por aqui. Pensar dói, fura o ego como uma adaga prestes a perfurar um coração, que só tem um minuto para relembrar de sua vida e marcar os pontos falhos ao mesmo tempo que se desperta a curiosidade sobre o que será dele após aquele momento sangrento e frio.

Está noite, não há barulho ao redor, somente esse tilintar de teclas que não sabem soar como uma sinfonia alegre e melancólica, que me enche de paradoxos irrefutáveis ao meu saber, enlouquecendo-me ao ponto de pensar, pensar, e esquecer.

Com a alma perdida, as mãos deslizam simultâneas sobre esse emaranhado de letras, afinal, quem nunca perdeu um vestígio de sua alma ao se entregar a um amor impossível, distante, obscuro. Amor é apenas um sentimento fútil e caprichoso para os tolos que nada dele conhecem. Amar é uma marca de nascença, uns nascem com elas, outros a adquirem, outros, o escondem, até sufocá-lo e mergulhá-lo no mar das desilusões.

Ao passo que o tempo corre, a lua cobre o céu, com a sua sombra nodosa sobre a vegetação, o vento traz o sono, que pousa sobre a cabeça, deixando-a pesada, cerrando os olhos, ofuscando nosso pensamento, trazendo todos os desejos mais afáveis para o lugar de onde antes, era ocupado, por indagações sobre meu ‘eu’.

Deito-me aconchegante, sem olhar para o teto marcado pelo tempo passado, respiração funda, toda a vida passando por uma mente vazia, olhos semi-cerrados, o fim, enfim.

Bruno R Santos
Enviado por Bruno R Santos em 28/12/2009
Código do texto: T1998977
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