O copo que filosofava


Era um copo de garrafa verde cortada. Cabia nele um mundo de especulações, idéias e soluções para qualquer espécie de problema. Quando à mesa, acompanhava o passar das mocinhas sorridentes, que andavam aos pares, trios, quartetos, cheias de assunto e muita alegria, lançavam olhares furtivos e se retraiam como convém à idade de menina-moça.

O copo topava todas. Cheio até a borda das mazelas do mundo se empenhava em destilada filosofia. Suas anedotas, declarações e discursos (copos adoram discursar) eram a graça do lugar até certa hora. Depois de trair e ser traído, lá pelas três da madrugada, ninguém mais ouvia ou se importava com o copo. Era a vez da vassoura e do “pé-na-bunda”. Do contrário, o copo amanheceria como de fato amanhecia.

Um dia o copo foi atravessar a rua e conheceu uma taça que se dizia poeta. Apaixonaram-se à primeira gota. Com o tempo era tanta lágrima que o copo foi se enchendo e transbordou. Foi assim que caiu num bueiro, até que reciclado virou cd. As canções? Nem se fala...

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meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 02/01/2010
Reeditado em 04/08/2012
Código do texto: T2007294
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