"A DONA DA PADARIA" Conto de: Flávio Cavalcante

A DONA DA PADARIA

Conto de:

Flávio Cavalcante

Cidade movimentada. Sol a pino. Um formigueiro humano aglomerado na cidade de São Paulo. Centro. Movimento gigantesco de imensa padaria composta de um número grandioso de funcionários.

Dona Manuela, proprietária do estabelecimento, é uma portuguesa, que encara a vida de frente e segura ás rédeas do seu estabelecimento no geral. Viúva sem filhos e rica, coisa que na sua vida o que não falta é pretendente pra abocanhar o fatia do belo bolo já pronto pra ser degustado. Visto a olhos nus que os interessados se aproximam na intenção de ter um lugar ao sol, até porque dona Manuela não dispõe de um corpo que venha despertar libido em algum homem; pois está muito acima de seu peso de origem e tem manias horrorosas no seu estabelecimento. Todos a criticam pela forma de correção aos seus funcionários.

Os clientes mais antigos freqüentadores do estabelecimento já se acostumaram com aquela maneira estranha que ela tem de corrigir qualquer pessoa que ouse usar alguma letra do alfabeto fora do lugar. Já com alguns processos em suas costas, diz ela que não consegue ver alguém falando errado sem deixar passar a correção. Acha ela que está contribuindo para a cultura da pessoa própria.

Nem todo mundo aceita ser corrigido, principalmente como a dona Manuela faz, na frente de tudo e de todos.

O cidadão ignorante, cliente da padaria, não estava mais agüentando a mania feia da velha e já passara por alguns constrangimentos, por causa dela e já estava com a cabeça cheia e a ponto de uma explosão dentro da padaria. Dona Manuela, viu que o cidadão não havia gostado de sua forma de tratamento.

SENHOR!

(Diz a dona Manuela tentando se desculpar. Nervoso, o cidadão já respondeu soltando os cachorros em cima da mulher metida á professora de português).

QUE É PORCARIA!

(Ela não gostou da reação do cidadão e retrucou, quase que no mesmo tom).

EU NÃO SOU PORCARIA...

(Isto ela falou quase em berros, chamando a atenção de todos os clientes que estavam naquele estabelecimento. Dona Manuela repentinamente caiu na real e teve que se curvar diante do seu erro, pedindo desculpas ao cidadão e o prometendo que não ia mais corrigi-lo. O cidadão concordou e estendeu á mão a dona da padaria em sinal de ter concordado com as desculpas).

EU ACEITO AS SUAS DESCULPAS, MAS APROVEITANDO O ENSEJO, DÁ PRA SENHORA ME VENDER DEZ PÃO?

(Dessa vez, a Manuela coçou a orelha e ficou nervosa, mordeu os dedos, para não descumprir o que havia prometido, mas em vão. O vício de corrigir ás pessoas era maior que ela, que acabou não se controlando e corrigiu o dito cidadão).

DESCULPA, MAS EU NÃO POSSO DEIXAR PASSAR UMA COISA DESSAS. O SENHOR ME PEDIU DEZ PÃES E NÃO DEZ PÃO.

(Inocentemente ele retrucou de imediato, mas sem entender).

NÃO. EU PEDI DEZ PÃO MERMO E APROVEITE, TRAGA TAMBÉM UM OVOS...

(Dessa vez a dona Manuela já estava se descabelando e acabou corrigindo mais uma vez de forma gentil).

MEU SENHOR, TÁ TUDO ERRADO. VAMOS POR PARTE. O SENHOR QUE UM OVO E DEZ PÃES... MAIS UMA VEZ LHE PEÇO DESCULPAS...

(O cliente ficou andando de um lado para o outro feito um louco alucinado e murmurando palavras incompreensíveis á ponto de dona Manuela achar que o cidadão estava com algum distúrbio mental e o chamou para tentar ajudá-lo).

O SENHOR TÁ COM ALGUM PROBLEMA? EM QUE POSSO AJUDÁ-LO? QUER UM COPO COM ÁGUA...

A resposta do homem foi motivo de gargalhadas no estabelecimento de dona Manuela.

EU NÃO TOU COM PROBLEMA NENHUM. SÓ NÃO SEI SE MANDO A SENHORA TOMAR NO... OU TOMAR NOS...

Todos olharam para a dona Manuela que ficou sem graça e depois dessa, nunca mais corrigiu ninguém. Realmente ela aposentou a língua. Ás vezes, tiramos lições na vida, vindas das pessoas mais humildes.

-FIM-

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 16/01/2010
Código do texto: T2032448
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