Jardim de almas

Um dia desses abri os olhos e estava eu defronte a um imenso jardim. Continha variedades enormes de flores, árvores frondosas, bancos enfeitados e caminhos de pedra. Alguns passos foram necessários para adentrá-lo e então cheguei até lá e observei cada espécie de flor,com cheiros muito prazerosos.

Meus passos foram se alargando sem que eu percebesse e quando cheguei às tulipas olhei para trás e notei que o portão de saída não estava mais à mostra, não me preocupei, pois o jardim não podia ser tão grande a ponto de me perder. Cada vez mais fui adentrando, logo de frente as flores havia uma clareira e do outro lado algumas árvores com bancos abaixo. Me aproximei e então percebi que não estava sozinha. Lá havia um homem, já com a idade avançada, parecia ter mais de cinquenta anos _Será mais um visitante ou o dono do lugar? E só ai percebi que não havia me lembrado se podia entrar, e se não pudesse? O homem ficaria bravo? E então resolvi me aproximar esperando logo alguns sermões, mas ao contrário, o homem me convidou para juntar-se à ele no banco. E sem cerimônias me aproximei e sentei. Já ia abrir a boca para me explicar, mas ele fez um gesto para ficar quieta. Ouvi um barulho de longe da queda de uma cachoeira, era calmo e tranqüilizador. E finalmente o homem se anunciou com sua voz calma e rouca. _A beleza pode enganá-la querida, cuidado, pois os olhos enganam e a curiosidade mata.

Não havia entendido uma única palavra do que acabara de ouvir, mas continuei ali, imóvel, ouvindo o doce barulho da cachoeira.

Passaram-se minutos e estava começando a achar que já havia passado mais de uma hora ali. Era tão tranqüilizante que não tinha vontade nenhuma de levantar e ir a outro lugar. Ali era perfeito, o cheiro doce de flores, a vista, o barulho, muito encantador. Só então percebi um papel estirado no chão. Vai ver caiu do bolso do homem, abaixei, peguei o papel e devolvi a mão entreaberta do homem que repousava em seu joelho, mas para meu espanto seus olhos estavam fechados e sua boca escancarada. Comecei a chacoalhá-lo, mas já estava branco como seda e gelado demais para estar vivo. Chorei em silêncio, como se esperasse que acontecesse comigo também, pois não consegui sair dali.

Já cansada de me exasperar, recuperei o papel da mão do morto e ali dizia: A beleza pode enganá-los, cuidado, pois os olhos enganam e a curiosidade mata. De repente parei de ler e comecei a me exasperar novamente, era exatamente o que o homem havia dito ainda em vida. Continuei a ler: Aqui é o jardim das almas roubadas, o adeus é necessário, as aves voam e a consciência também. Ao chegar ao ponto final senti uma pontada muito forte em meu coração, não conseguia respirar,nem me mexer e nem gritar. Alguns segundos se passaram e a mão entreaberta faz o papel cair e voar com o vento e as almas existentes ali.

Pamela Faria
Enviado por Pamela Faria em 18/01/2010
Reeditado em 10/09/2011
Código do texto: T2035752
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