O POETA

Num vai-e-vem apressado passava o dia.

Passavam-se as semanas, os anos e ele naquele vai-e-vem. A quem também passava, ele pedia, porém não insistia. Com um sorriso débil característico e ao seu universo peculiar, algumas vezes chegava a muitos a assustar.

Sempre sorridente e de lápis na mão a vagar. Rotineiramente o lixo vasculhava; com àquele riso tão particular igual criança vibrava ao encontrar, não se importando com o tamanho, qualquer pedaço de papel lhe servia – amassado ou rasgado, todos eram do agrado. As mãos viviam cheias de calhamaços. Era o que lhe encantava. Ele, outra vez no seu vai-e-vem ria-se.

Em monologo murmurado, vivia repetindo:

- Ah, eles não sabem, mas, eu sei, e vou escrever para o mundo ler!

Vai e vem todos os dias de onde vem ninguém sabe, nunca foi preocupação daqueles que o viam a vagar, no entanto por onde ele passa todos lhe vêem – àquele vai-e-vem é o que a todos detêm. Para onde o levam, lá já esteve muitas vezes. Onde muitos tão iguais ainda estão.

- Que loucura!

- Talvez...

Porém sabes-se apenas que em seu vai-e-vem e em rotos papéis escreve e descreve, em prosa e em versos às vezes com rimas os seus delírios.

"Loucos!

Há quantos anos fogo, fome, fuga?

Insanos!

Quantos em guerra, por efemeridades a lutar?

Loucos! Insanos!

A quem, pouco importa às lágrimas dos outros derramar.

Insanos, insanos – Loucos!

Por que param a me olhar?

Oh, Deus!

Não permitais, Vós, que eu volte para lá.

Naquelas paragens não há palmeiras.

Lá tampouco canta o meu sabiá.

Como altas são suas fronteiras!

Sombrias almas vagam por lá.

Lá em sombra vou me tornar.

E como vou ouvir meu sabiá?"

Céleres e tristes passaram-se às horas naquele dia. Foram-se as semanas e os anos e o Poeta não mais se viu nem dele se ouviu.

- Para onde foi?

- Quem sabe...! Ninguém viu.

No entanto, os loucos dissimulados como são

Sem trégua a guerrear.

E a paz em sonho quimérico a se transformar.

Quão mutáveis as razões pelas quais estão a brigar.

Na hedionda ceifa sonhos e vidas a matar.

Insanos, quantos...

Excepcional é o número.

Sem rumo a vagar.