Buscando o amanhã VIII - capítulo VII

CAPÍTULO VII:

Desceu as escadarias e encontrou o Conde e a Condessa conversando com o Marquês e sua esposa.

-E essa adorável senhora? – A marquesa perguntou ao ver Lore. – É esposa de seu filho?

-Não. – Disse o conde. – Tratasse de uma nobre senhora filha do Conde de Nielle, que veio passar alguns dias conosco.

-Oh, compreendo. – Disse a Marquesa.

Lore imediatamente entendeu qual era o jogo do Conde. Queria impressionar os Marqueses. Não que precisasse disso, mas precisava de aliados.

Pouco tempo se passou até que o Conde e a Condessa conduziram seus convidados ao salão do castelo, onde uma mesa farta fora preparada.

Além do conde, da condessa, seus filhos e Lore, os cavaleiros do conde também estavam presentes. Alguns músicos foram encarregados de tocar seus instrumentos.

O conde e a condessa entretinham os convidados em uma conversa banal, que Lore não fez questão de ouvir. Novamente preferiu a companhia de Arthur, que agora conversava com Felipe e com o filho dos Marqueses.

Após o jantar, o conde levantou-se de sua cadeira e disse:

-Meus caros, que acham de um pouco de música para distrairmos nossa atenção? – Perguntou ele. – Senhora Lore, poderia nos embevecer com sua voz, ouvi dizer que tens uma voz digna de muito elogios.

-Comentários deveras exagerados. – Lore sorriu timidamente, embora seus olhos não demonstrassem timidez alguma.

Ela levantou-se e seguiu para um ponto onde podia ser vista. Passou alguns segundos pensando em alguma canção e então iniciou-a.

Ao terminar, teve aplausos do Marquês e da Marquesa.

-Deveras, tu cantas divinamente, senhora. – Disse o Marquês.

Lore apenas fez um suave meneio com a cabeça para aceitar cortesmente o elogio.

Seguiu novamente a seu lugar e sentou-se.

-Meu tio, eu gostaria de falar com o senhor. – Disse William, que estava sentado próximo ao tio.

-Pois sim? – Disse o conde, parecendo interessado.

-Tenho tido curiosidade a respeito de meu pai. – Disse William. – Ele não lhe enviou mais nenhuma mensagem?

-Não, lamento dizer. – Disse o conde.

-E o pai de minha noiva também, nada lhe enviou? – Perguntou ele.

O conde pareceu levemente incomodado com a menção ao duque.

-Sim, ele também nada enviou. – Disse.

-Que lastima. – Disse William. – Irene está tão triste com isso.

Nessa hora, Lore deve vontade de gargalhar, ante a expressão de espanto do Conde.

-Então encontraram a jovem filha do duque? – Perguntou o Marquês.

-Encontrá-la? – Perguntou William. – Como, se ela jamais esteve perdida?!

-Mas ninguém a encontrava... Ninguém sabe onde ela está! – Disse o conde.

-O senhor sabe, ela cresceu com a tia, a Marquesa Adelaide. – Disse William, que também parecia divertido.

O conde pareceu confuso.

-Zombas de mim, por acaso? – Perguntou enfim.

-Jamais o faria, meu tio. – Disse William. – O senhor mesmo a viu durante todos esses anos!

-Eu? Não... – Disse o conde, confuso no meio das falas do sobrinho. – Estás ficando louco?

-Como poderia estar louco, se Irene até mesmo está aqui nesse momento. – Disse William.

-Está? – Perguntou o conde.

-Estou. – Disse Lore.

-Você?! – O conde murmurou aturdido.

-Que esplendido! – Disse a Marquesa. – Então estavas viva todo esse tempo?!

-Sim, de fato. Mas concordamos que seria melhor que eu mantivesse isso em segredo. – Disse Lore.

-Uma decisão prudente. – Concordou o Marquês. – Já que sua mãe foi tão injustamente condenada.

O conde, aturdido, manteve-se calado. As conversas no salão passaram a ter sempre relação com Irene e com sua misteriosa aparição.

O Marquês e a Marquesa pareceram, então, mais interessados em William e na jovem.

-Então, pretendem casar? – Perguntou o Marquês.

William encarou-a por um tempo e respondeu:

-Foi da vontade de nossos pais, mas por enquanto ainda esperaremos a volta do duque.

-Uma decisão sensata, meu rapaz. – Disse o Marquês.

E logo ele começava a discutir manobras políticas com ele, dividindo experiências e dando conselhos.

Quando enfim todos se retiraram para seus aposentos, a Condessa ainda ficou algum tempo no salão inspecionando a criadagem. Lore seguiu para seu quarto, e deitou-se na cama vestido apenas a roupa de baixo, mas não dormiu.

Pensava sobre como seria, dali em diante, sua vida. Passara mais de dez anos de sua vida se escondendo e fugindo, e agora que encarava de frente aquela situação, tudo parecia bem mais fácil do que ela havia suposto.

Permaneceu algum tempo deitada, pensando.

Ouviu de repente a porta ser forçada. Sentou-se na cama, e observou.

Quando a porta de abriu, Felipe entrou com um sorriso torto nos lábios.

-Então a duquesinha está acordada? – Disse ele irônico.

-Isso não é da sua conta. – Disse ela num tom entediado. – Mas poderia fazer a gentileza de sair de meu quarto?

-Tu sabes a que vim. – Disse ele mostrando a espada. – Assim como sabes que desta vez não irás escapar.

-E que novamente será mostrado o quão cego um homem pode ser por seus interesses. – Disse ela. – Não percebes que teu pai te usa? Achas mesmo que ele lhe dará um quinhão de suas posses?

-Não sou nenhum idiota. – Disse ele. – Meu pai vai conseguir tudo o que convém a um governante e então eu tomarei dele através da herança.

Lore olhou para ele, perplexa.

-Eu não devia esperar algo diferente. Ele teria o que merecia. – Disse ela. – Mas acho que você se equivoca ao pensar que sou uma donzela indefesa e que não vou lutar pelo que me convém.

Ele nada disse. Ergue a espada para atingi-la, ela imediatamente defendeu-se usando as duas adagas que deixara sobre a mesa de cabeceira, formando com elas um “X” que refreou a lâmina da espada.

Ele tentou forçar por algum momento, mas não obteve grande sucesso. De fato, Lore era consideravelmente forte para uma mulher.

Ele tentou um outro golpe, que foi refreado da mesma maneira.

Foi então que teve uma idéia. Ele foi avançando em seus golpes, dando largos passos.

Lore estava ocupada demais em visualizar a lâmina da espada para reparar que ele a guiava para um canto do quarto. Quando notou isso, já era tarde demais. Estava escorada na parede e ele estava a sua frente.

-E agora? Pode tentar evitar a lâmina por mais algum tempo, mas e depois? – Ele perguntou com um sorriso.