(MERA FICÇÃO).



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A SAGA DE LIGIA <<<
 
POR  SMELLO

  Podem parecer situações comuns, que se desenrolam no cotidiano, mas não são; os traumas que LIGIA sofreu precisavam ser narrados para servirem de exemplos às pessoas que venham conhecer sua estória e tenham de enfrentar  os   mesmos dramas. 

  LIGIA morava numa propriedade rural em companhia dos pais e seus irmãos, no sul de Minas; a cidade era conhecida quase que mundialmente, por ter a escola superior de geologia, para onde convergiam estudantes brasileiros e sulamericanos, e uma fabrica de armamentos do Exército.
 
  Ainda mocinha, em razão de sua beleza, que motivava a admiração geral, sofria o assédio de todos os jovens do lugarejo, especialmente os filhos dos abastados fazendeiros, o que determinava desmedida vigilância de seu pai e do seu próprio
 irmão, tio Lívio, o primeiro conhecido na localidade por JOÃO BARULHO", e o segundo verdadeira fera, BIRRENTO, ambos impediam qualquer liberalidade de LIGIA, em seus arroubos próprios de menina, de seus 15 ou 16 anos.

  
  Corria pela região a fama da formosura da filha de João Barulho, tal sobrevinha curiosidade ou até mesmo o hesitante desejo em conhecê-la e a tentativa de conquitar o seu amor. Primeiro, dos estudantes da Escola de Engenharia, forasteiros do município, que para lá se deslocavam, a fim de estudar a ciência morfológica da formação terrestre. Aqueles sabedores dos predicados de Ligia, formavam caravanas e partiam em direção à região campestre, dedicada à agricultura, ao menos para vê-la. 

  Por  mais que parlamentassem com João Barulho e a pertinas teimosia do tio Lívio, lá estavam eles a policiar os passos da mocinha, de fascinantes encantos, impedindo a aproximação dos esbeltos rapazes, que causavam na cidade admirações e elogios.
LIGIA ficava trancada na humilde chopana, sem  oportunidade de ver os requintados mancebos. 


  Entre os inúmeros pretendentes do local em que ela residia, o mais apaixonado pela moça era sem dúvida "Zé Magriço", que apesar da constituição fransina, tinha traços fisionômicos perfeitos, refinada  educação e simpatia, atributos que chamavam
atenção  de todas as moças
. 
 
  Certa ocasião, quando da aproximação da eleição da Miss Minas Gerais, que concorreria ao título de Miss Brasil, fluiu célere a lembrança da eleição de Ligia para representar o município, que tinha como nome originário PEDRA GRANDE na lingua tupi.
 Os traços marcantes de Ligia se acentuavam na tez morena, uma cutiz acetinada, lustrosa, dando a idéia de pertencer à raça indígena.

  Jornalista e fotografos foram até onde morava João Barulho para tentar convencê-lo deixar que sua filha concorresse ao título de Miss.   Além das infrutiferas tentativas,  suportaram  o desprazer de terem de se deslocar estrada à fora, ante a ameaça da carabina do tio Lívio, que os expulsou do lugar.

  Aquele fora, inegavelmente,  o primeiro impacto à formação evolutiva da vida de Ligia. Afastava-se ela da oportunidade de galgar expressão na vida social, pelos encantos da beleza que possuia. 

  A vida de Ligia foi se desenrolando sem espectativa para um futuro promissor, permanecia ela estacionada nas mesmas atividades domésticas e campestres, sua beleza fora relegada a uma posição secundária. Sistematicamente ordenhava as vacas e cabras, recolhia os animais, fomentava criação de aves e porcos e dentro de casa preparava o café da manhã, em que não faltava o tradicional pão de queijo, elogiado por toda redondeza, isso antes de dirigir-se ao curral. As mãos calejadas não impediam de preparar o almoço, apreciado por todos de casa. Essas atividades que desempenhava, inegavelmente, eram fatores que impediam sua evolução social. 

   O pai e o tio Lívio começaram a manobrar no sentido dela se casar com um rapaz que teria um futuro promissor, primeiro começara destemidamente na quebra de rochas da pedreira local e aos poucos evoluiu para atividade de construtor, com grande aceitação.
Seria um homem talhado para Ligia, especialmente porque já conseguira formar um pequeno patrimônio, causador da admiração geral. Guardava no seu nome próprio, um
orgulho para sua família, que prestara homenagem ao dia em que nascera, o chamando de "ar lindo".  O certo era que Arlindo tinha também em seu favor, robustez e fisionomia de visionário, um descortíneo de bons negócios. Esses  predicados influenciaram João Barulho e tio Lívio o escolherem para Ligia, por considerá-lo um BOM PARTIDO.


   O casamento de Ligia com Arlindo não teve maior repercussão, ficou restrito ao lugarejo onde ela vivia com seu pai JOÃO BARULHO e a participação ativa do Tio Lívio. O casal pouco tempo permaneceu na roça, mudou-se para a cidade, local de maior atividade profissional do varão, que conseguiu ainda mais progredir no âmbito da construção civil. Seu vigor e capacidade fizeram com que seu trabalho se extendesse à construção de estrada, especialmente no município de Piquete. 

    Ligia, entretanto, se manteve no nível de dona-de-casa, restrito à criação de 6 filhos nascidos no pouco tempo que durou seu casamento. Apegava-se à religiosidade, numa fé imperecível nos designios de Deus. 

    A vida de Arlindo foi se deteriorando, denegrindo em consecutivos adultérios, culminando ser hostilizado pela sociedade local, até mesmo do Curul Municipal. Numa insensatez afrontosa, verdadeiro deslumbramento,  ao desfilar de carro com as amantes por toda cidade, gestos de impropriedade para o povo local. Essas humilhações acarretaram para Ligia e família um total isolamento no âmbito da cidade, até seus filhos se viam impossibilitados de brincarem com as demais crianças. 

  Os sonhos daquela bela jovem foram   se   desvanescendo, 
idêntica situação teve de enfrentar com os recurso de manutenção do lar. As privações chegaram aos filhos, forçando as filhas menores a recorrer aos empregos domésticos e diferentes comércios.
 
    Premido pela circunstância de ser expulso da cidade, Arlindo abandona Ligia e a família à própria sorte. 

    
    Os anos vão passando amargurados por Ligia, acuada diante de tantas privações, sem vislumbrar uma saida que pudesse minorar seus sofrimentos, desenha-se no firmamento o retorno ao primitivo amor, antes frustado.

     "Zé Magriço", apaixonado por ela em tempos passados na mocidade,  desiludido da vida, se une a uma viuva com 8 filhos, que falece lhe deixando viuvo. E, numa transformação radical daqueles trágicos episódios, vai ao encontro de Ligia conduzido
exatamente pelo Tio Livio, que tanto mal lhe fizera.

     Reviveram instantes amorosos de alegrias, devaneios e fantasias, com o apoio dos parentes que cercavam o par apaixonado. E, em pouco mais de nove meses, tempo
que mediou a competente ação de divórcio dela com o marido fujão, ocorreu o enlace matrimonial de Ligia com seu primitivo amor, contando com a aprovação dos filhos indistitamente e do povo de ITAJUBÁ, que acorreu ao Cartório e a Igreja para aplaudir a ambos, Ligia diante do seu sofrimento e firmeza de conduta, e PAI ZÉ, como passou a ser chamado por todos que lhe estimavam e respeitavam. 

     As festividades das bodas duraram três dias, numa euforia geral, dos parentes e a participação da população de PEDRA GRANDE, prazerosa com aquela união. 

    MAS, não acabaria alí o drama de Ligia, a SAGA tinha continuidade, PAI ZÉ morre nove meses após conseguir conquitar a sua deusa e a ela se juntar.