Sem sinal

Sem sinal. É isso que leio, em letras grandes e pouco nítidas, quando olho para a televisão. Sem sinal. É isso que eu sinto, em letras pequenas e muito nítidas, quando não olho para lugar algum. Sem sinal, é isso que sou. Sem sinal.

Uma tela preta pouco luminosa que faz dos corpos vultos, das dores mágoas e dos desejos céticos. Uma tela pouco luminosa que faz da vida nada além dela mesma. Nua e crua, como não merece ser. Nua e crua, com suas imperfeições a mostra e seu sorriso amarelo escondido. Nua e crua, e ninguém nunca o encontrou. Falo do seu sorriso. Ninguém nunca o encontrou.

Sem sinal, nua e crua, com os seios expostos ao vento. Sem sinal, com a pele levemente gélida, e a face levemente rubra. Sem sinal, e as letras verdes confundem o meu sentir.

Sem sinal, sentada em uma cadeira reclinável. Sem sinal, com os cabelos pingando suores que ainda virão, e com as costas molhadas e ardidas, de ardores que ainda serão.

Sem sinal, com o corpo rubro e a face gélida, com a luz piscando e anunciando a verdade pro mundo: estou sem sinal.

Nua, crua. Nula. Porque ela insiste em me lembrar disso o tempo todo? Sem sinal, sem vontade de nada. Sem sinal. Não existe mais espaço para mim em mim, porque estou sem sinal.

Marilia Westin
Enviado por Marilia Westin em 09/02/2010
Código do texto: T2077009
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