Bate-papo no Céu

Hoje resolvi dar asas à imaginação, criando uma situação hipotética, até esdrúxula, ou seja, suponhamos que os espíritos humanos, recém-desencarnados, antes de passarem pelo julgamento no tribunal do Céu, a fim de que sejam determinados os seus novos níveis espirituais pós-vida física, tivessem que participar de uma entrevista com um anjo, cuja função fosse a de mostrar aos futuros “réus” o que poderia estar à espera de cada um, no desenrolar do julgamento; digamos que seria simplesmente um tipo de preparação psicológica. Então, dando continuidade ao assunto, imaginemos que um grupo de espíritos tenha sido encaminhado para um local de reunião com esse anjo orientador, e vamos assim vivenciar os diálogos aí desenrolados.

O anjo faz a seguinte pergunta ao primeiro “candidato”: _Você foi um alto dirigente de um clube de futebol lá na Terra, portanto o que tem a oferecer a Deus para merecer a sua ascensão espiritual? Daí a resposta: _Eu fui o responsável de levar alegria aos torcedores do meu time e de participar de forma ativa e consciente, sempre oferecendo o melhor espetáculo àqueles que acompanham o futebol. Por meu intermédio, muitos jovens tiveram a oportunidade de escolher uma profissão que lhes levasse à glória, sendo idolatrados por multidões, às vezes alcançando altos patamares de fama e riqueza. O futebol movimenta bilhões de dólares, incrementando as economias dos países, combatendo a pobreza através da oportunidade de emprego a jogadores, técnicos, e demais profissionais afins, isto sem falar da movimentação de toda a mídia televisiva, falada, escrita e “internética”.

O mesmo questionamento é feito a outro participante, que era um eclesiástico, fundador de uma seita de fundo cristão, e daí a seguinte resposta: _Por meu intermédio, um incontável número de pessoas foi salvo de seus pecados, entregando-se aos milagres de Deus e recebendo muitas graças, com a expulsão do mal em seus corpos e com a proteção divina contra a ação de satanás, apenas mediante contribuições monetárias para a igreja e a participação em cultos de louvação ao Senhor Jesus.

Em seguida veio a resposta de um ex-empresário bem sucedido, embora de mediana projeção no mundo dos negócios: ¬_Eu sempre procurei trabalhar com produtos que oferecessem a máxima satisfação aos meus clientes, primando pela qualidade e pelo atendimento de primeira linha, sem que isso viesse a onerar artificialmente os preços de venda dos produtos. Procurei manter a eficiência do meu empreendimento mediante a preocupação de tratar meus funcionários como participantes colaboradores, oferecendo-lhes cursos profissionalizantes, gratificações proporcionais à lucratividade, expurgando os elementos perniciosos e dando oportunidades de crescimento aos verdadeiramente interessados. Nunca deixei de cumprir com meus compromissos, fosse com o governo, com os fornecedores, com os funcionários e principalmente com meus clientes, procurando manter apenas uma lucratividade coerente com o capital empregado e com o esforço despendido, ou seja, nada além do justo.

A partir daí o anjo começou a tecer seus comentários, primeiro para o empresário: _Muito bem, você foi uma personalidade cumpridora da sua missão como responsável por pessoas, sendo altruísta, sem ganância, honesto e cumpridor dos deveres, portanto foi um exemplo de cidadão, a ser seguido por aqueles que queiram se salvar espiritualmente. _Quanto a você, futebolista, a sua vida foi toda inútil, pois serviu para participar em algo que não soma nada na sua individualidade, pois o futebol profissional só serve para desviar as pessoas da realidade da vida, criando um bando de alienados, que usam o tempo de vida em atividades inócuas ao crescimento espiritual, ao mesmo tempo fomentando confrontos imbecis, violência gratuita e corrupção.

_Finalmente você, caro religioso, pode estar certo de que o seu cantinho no inferno já está guardado; ninguém usa o nome de Deus ou de qualquer um Seu representante para ludibriar incautos e auferir ganhos materiais impunemente. A escolha desse caminho foi a sua total ruína espiritual. Infelizmente lhe digo: pode ir colocando suas “barbas de molho”!

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 13/02/2010
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