LALADO FALOU...TÁ FALADO

LALADO FALOU...TÁ FALADO!

Lazaro Silvestre era um preto simpático, alegre e boa pessoa, mas seu cérebro não tinha um bom funcionamento; não era totalmente louco e muito menos agressivo, as vezes se irritava com alguma maldade recebida e se descontrolava, gritando palavrões e fazendo gestos feios, mas sua fúria era passageira e logo voltava ao normal.

Ele vivia em Cipoal, uma pequena cidade no interior de Minas, onde os dias passavam lenta e calmamente, onde ninguém tinha pressa para nada; Lazaro Silvestre era seu nome civil, mas toda a comunidade o chamava de Lalado, porque sua linguagem era bastante enrolada e quando ele tentava dizer seu nome, só conseguia dizer Lalado.

Trabalhar ele nunca trabalhou, por falta de habilidade para aprender uma profissão, mas sobrevivia batendo um pandeiro e fazendo alguns passos de dança, que divertiam as pessoas que lhe davam alguns trocados e assim ele ia vivendo modestamente, mas sempre alegre e feliz; Lalado tinha seu lado inteligente que ele usava para cantar.

Falando ele era difícil de entender, mas para cantar ele era fluente e seus versinhos meio tortos falavam sempre de Cipoal e dependendo de seu estado de espírito, falavam bem ou mal e a melodia inventada por ele era sempre no mesmo tom monótono e tristonho e assim ele cantava sua terra e divertia as pessoas, quebrando a monotonia de sempre.

Seus versos preferidos falavam de uma bomba que Deus ia jogar em Cipoal e acabar com a cidade e com todo o povo, para ele plantar um campo de cebolas e depois vender todas e ficar muito rico e se alguém dizia que com todos mortos, ele não teria para quem vender, ele se enfurecia e xingava palavrões.

Anos e anos seguidos Lalado cantou, tocou pandeiro, dançou e desejou um campo de cebolas para enriquecer, mas sempre viveu pobre e feliz a seu modo; ele terminava sua cantoria sempre com as mesmas palavras, rimando ou não com a penúltima frase do verso, ele encerrava assim: Lalado falou...tá falado e ponto final.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 15/02/2010
Código do texto: T2088269
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