APARTAMENTO ALUGADO

Minha filha sugeriu uma temporada em Cabo Frio. Eu argumentei não ter dinheiro para as despesas. Sugeriu dividir o aluguel do apartamento e despesas de alimentação com as amigas. Eu não aceitei de imediato a ideia. A filha disse que outra mãe poderia ir também.

Reuniu-se o grupo: namorado, mãe do namorado, as amigas, eu e ela.

Apartamento sem garagem privativa. As melhores vagas de estacionamento são para quem chegar primeiro. Manobrar no estacionamento requer um manobrista para desalojar um carro e deixar sair outro. O manobrista é ao mesmo tempo zelador e porteiro do prédio e nem sempre demonstra bom humor e disposição para manobrar carros. Eu decidi usar o carro apenas para as compras de supermercado.

Foram estabelecidas as regras de convivência no apartamento. Por economia, eu prepararia a comida; o dinheiro para as compras seria rateado entre todos; comprar apenas os produtos básicos e para os extras cada um arcaria com o custo. A louça seria lavada por alguém escalado diariamente. Os quartos seriam arrumados pelos ocupantes. O banheiro seria enxugado por cada um após o banho. Cada um lavaria sua própria roupa. As roupas secas seriam recolhidas para dar espaço às outras molhadas, etc.

O primeiro dia foi magnífico. Após o café da manhã, louça lavada e praia. Eu preparei o almoço com capricho e cada um lavou seu prato. E as panelas? Quem lavaria? Ficaram as panelas sujas até o dia seguinte.

Dia seguinte me dispensaram de preparar o almoço. Mas tive de lavar as panelas. Junto com as panelas havia um monte de copos sujos.

Nos dias seguintes, descobriram que a descarga de água da privada estava com defeito. Chama o zelador. O zelador chama o bombeiro. Tem que trocar a válvula. Não trocam a válvula porque compete ao dono do imóvel. A descarga do vaso sanitário passou a ser feita com baldes. Encher o balde no tanque e jogar a água na privada. Aconselhei que fosse melhor deixar sempre um balde cheio de água no banheiro.

Ninguém ouve. Ninguém seca o banheiro depois do banho. Ninguém torce os panos de secar o chão. Quartos desarrumados. Roupas secas e molhadas se amontoam no varal improvisado na área de serviço. O caos estava anunciado.

O filtro de água não funcionava. Era preciso comprar água engarrafada. Cada um comprava a sua garrafa de água mineral e a pequena geladeira se encheu de garrafas. Cada um passou a comprar sua própria comida. Não havia lugar na geladeira pra tanta coisa.

O apartamento virou uma casa da mãe Joana. Eu me enchi e me exasperei e disse que iria embora. Minha filha chorou e implorou para permanecer. Não cedi e arrumei a bagagem. Ela, chorando, se enfiou no carro. Parti de volta bem cedo, interrompendo a temporada.

Ao chegar a casa desabafei: - Boa romaria faz quem em casa fica em paz.