Histórias Entrelaçadas"O Amor Impossível" - Parte final

'O tempo, senhor de todas as horas, inexorável, caminha sem parar, sem olhar para trás, deixa marcas indeléveis, o que foi nunca mais será. Juntos fomos nós, perdemos o presente e ele se tornou passado, não nos deu futuro, apenas sonhos impossíveis de serem um dia realidade."

Dez horas. Dez e vinte. Dez e meia, as horas não passavam, não conseguia ler, escrever e pior não parava de olhar as horas.

Resolveu sair. Deu uma desculpa qualquer a sua secretária e saiu.

Caminhou lentamente até a praça, sentou em um banco, à sombra de uma árvore, fechou os olhos e assim ficou até levantar e ir encontrar seu sonho.

Chegou a porta do restaurante, quando ouviu alguém chamar seu nome, era ela em seu carro, foi até ela, que pediu que entrasse, deu a volta, abriu a porta e entrou. Nada falaram, até ela dizer:- “Achei melhor não ficar aí, estamos no mesmo caso, muitos colegas freguentam o Prado, seria suspeito.”

-Tudo bem, para mim esta tudo bem, respondeu Isidoro.

Ela não conseguia parar de falar, Ele de olhar para ela, a idade a deixara mais bela.

Dirigiu para o Jardim Botânico da cidade, distante do centro, aonde certamente, dia de semana, não encontrariam ninguém conhecido.

Ao chegar, desceram do carro, entraram, foram caminhando, falando sobre as plantas, as árvores, as flores, os animais, os vários lagos, os pássaros, quase não se olhando. De repente, perguntou se ele estava com fome, por que ela estava. Foram até um pequeno quiosque, pegaram refrigerantes e lanches, e foram sentar num banco sob uma árvore.

-Bom, disse Poesia, casado, quantos filhos?

-Sim dois, um menino e uma menina, André e Poema.

-Poema! Era o nome, se tivéssemos casado, que daríamos a nossa filha, lembra?

-Lógico! Por isto ela tem este nome. Mas e você quantos filhos?

-Infelizmente nenhum. Estive muito doente e perdi totalmente a capacidade de gerar filhos.

-Porque não adotou?

-Pensamos nisto, mas fui me dedicando aos estudos, o tempo foi passando, deixei pra lá, mas sinto falta.

-Nunca é tarde, ainda tem muito que viver, conheço você sei que ti fará bem.

-É verdade, mas me falta coragem e tempo, e não me conhece, conheceu a criança, a menina, não a mulher.

-Mas, por que me ligou o que quer falar comigo?

-Sabe, desisti da advocacia quando descobri que a única coisa que me levava, a defender crápulas como este seu cliente, era o dinheiro. Porque o faz?

-Não vou entrar em questões filosóficas contigo. É pelo dinheiro, só pelo dinheiro, é com ele que sustento a minha família e ajudo a igreja.

-Não digo que está errado, mas deve haver um limite, tem que haver um.

-E há, não roubo a ninguém, mas a troco do que estamos filosofando, entre o bem e o mau. Para isto me trouxe aqui?

-Não, trouxe-o para falar de flores, desculpe é brincadeira, e o falar sobre Direito é uma mania de professora.

-Isidoro, você não mais soube de mim, mas eu sempre soube tudo de ti, de quando entrou no vestibular e de quando desistiu, de quando começou a namorar tudo até tua mãe Dona Ana, falecer.

-Como se não morávamos nem no mesmo bairro, sequer próximos.

-Tínhamos uma amiga em comum, tua mãe. Ela sempre me escreveu belas cartas. Por falar nisto, e os cadernos? São meus, eu os quero.

-Minha mãe nunca me disse nada.

-Foi uma condição imposta por mim.

-Os cadernos estão guardados, vou dá-los a você, são seus.

-Este é um dos motivos pelos quais marquei o encontro.

-E o outro?

-Queria ver você, falar contigo e dizer que vou pedir substituição do caso.

-Não vejo motivo, és brilhante. A melhor explanação que assisti de uma Promotora.

-É que quando olhei para você, quando ouvi sua voz, quando o vi andando, descobri que o amo e que não vou conseguir controlar minhas emoções. Sabe, Isidoro, quando criança, gostei de ti assim que o vi. Quando veio sentar comigo, fiquei feito boba sem saber o que fazer ou dizer. Quando ficou doente e não veio a escola, só sosseguei quando fui em sua casa te visitar. Já o amava antes mesmo de namorarmos. O destino deu a cada um de nós caminhos diferentes ao lado de outras pessoas, mas só nos deu um único amor, sei que me ama, pude ver em teus olhos no tribunal, por isto sairei do caso, não conseguiríamos ficar indiferentes um ao outro.

Sem saber o que dizer, Isidoro puxou-a de encontro a ele, beijando-a, um beijo doce, terno, cheio de amor e desejo, de paixão e saudades.

A muito custo, Poesia, se separou dele:"Não Isidoro, por favor, não.

-Porque meu bem? És o que mais quero.

-Eu o quero Isidoro, mais que tudo no mundo, mas não assim. Meu marido é muito bom para mim, gosto dele. Tenho um respeito enorme por ele. Sempre foi meu amigo e companheiro, não farei isto com ele, traí-lo.

Isidoro compreendeu que estava certa, mesmo não querendo.

-É verdade, teria que ser minha amante ou nos separarmos deles e nos casarmos.

-Não teria coragem de fazer isto com ele. Ele me ama, deixou muito de sua vida, para que eu realizasse meus sonhos. Se você não tivesse ficado noivo, hoje seríamos casados.

-Mas, só fiquei noivo depois que a vi aos beijos no portão, com seu marido.

-Não, quando comecei a namorar você já namorava firme a Isabel. Sabe como fiquei sabendo? Fui ao seu serviço, assim que voltei, queria fazer uma surpresa. Quando perguntei por você na recepção, a moça que me atendeu, perguntou o que queria com seu noivo. Dei uma desculpa qualquer, ela me falou que estavam com casamento marcado. Saí dali arrasada. Quando sua mãe faleceu, namorava a mais ou menos um mês. Não quis ir ao enterro, para não ver os dois juntos. Meu marido é meu terceiro namorado. Quando o conheci, achei parecido com você, às vezes fechava os olhos imaginando que era você e não ele que estava a meu lado na cama.

-Não eu apenas namorava Isabel, sequer pensava em ficar noivo ou casar com ela. Ela sempre soube que meu coração pertencia a você. Falei para ela.

-Então ela pressentiu quem era eu e disse o que disse para me afugentar

-E conseguiu. E agora o que faremos?

-Não quero mais ver você e espero que não me queira mais ver também, senão não resistiremos a tentação e poderemos nos arrepender depois. Me envie os cadernos.

-O farei. Não prometo nada a você, pois, não sei se conseguirei não ir atrás de meu sonho, ele é você. Não importa quando, mas um dia a terei, isto eu prometo.

-Dê-me um beijo de adeus.

-Sim, mas de até breve, amor.

Beijaram-se. Um beijo sofrido, salgado pelas lágrimas de ambos. O que o futuro reservou a eles, só o destino dirá.

C'est fini!

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 23/02/2010
Reeditado em 19/09/2010
Código do texto: T2103047
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