Faz de conta....

Lá estava ela de novo, na sua posição preferida.

Toda enroladinha como se fosse um feto.

Sempre gostara de ficar assim, cabia em qualquer poltrona.

Ela mesma se perguntava o porquê daquela preferência!

E vivia a imaginar!

Como seria voltar ao útero de sua mãe?

Viveria lá aconchegada, protegida.

Nada ia lhe atingir. Sorriu de seu pensamento.

Que idéia absurda.

Começou a se lembrar de seu tempo de criança.

Fora tão feliz!

Recordava-se sempre com saudade

do seu mundo de faz de conta .

Sempre fora solitária,

estava sempre sozinha a correr pelos barrancos dos rios.

Ou sentada num galho de arvore bem alto.

Um dia era uma grande bailarina. Em outro era uma linda fada

Mas o que mais gostava de ser

Era a princesa esperando seu príncipe chegar.

A gata borralheira que iria ao baile com o príncipe dançar.

Sonhava tanto que seu mundo de faz de conta

misturou-se a ponto de não mais distinguir,

qual era o real.

Mas a menina cresceu, e

descobriu que ela era somente a abóbora

que levaria a princesa ao baile.

Tudo foi diferente.

O príncipe virou sapo,

não a cortejou nem a levou ao baile.

Tornou-se a empregada que limpava chão o dia todo.

Nem de seu próprio lar ela foi a rainha.

Pensa nisso tudo, ainda enrodilhada.

Uma lágrima furtiva escapa.

Enxuga rapidamente.

Nem todas nascem para serem princesas.

Cada qual com seu destino, sua história.

Suspira profundamente, espreguiça-se sem vontade,

com o rosto impassível,

onde só os olhos contem uma centelha de vida,

e vai seu dia viver.

Afinal, uma verdadeira gata borralheira

que se preze tem deveres a cumprir.

Maria Bonfá

24/02/10

Maria Bonfá
Enviado por Maria Bonfá em 05/03/2010
Código do texto: T2121898
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