Uma homenagem

Com todo cuidado, sem fazer barulho, foi subindo. Deslizando a mão na parede, fazendo desenhos imaginários, devido a tanta alegria. Queria subir logo, mas sabia que tinha quer ser lentamente, não queria estragar a surpresa.

A porta estava logo ali, sua vontade era de segurar a maçaneta e girá-la. Quando fez esse gesto, ficou imóvel. Seus olhos não acreditavam no que estavam vendo. O brilho do seu olhar era ofuscante, e seu sorriso indescritível. Foi até o local onde estava sua família a abraçou a todos.

Poder voltar para casa, significava mais que estar de volta ao lar, significava que ainda estava vivo. Encarar as seções de quimioterapia era muito desgastante, e deixava seu corpo debilitado. Seu desejo era o mesmo de todos os pacientes, acabar logo com esse sofrimento.

Estar diante de sua família e um cartaz bem grande, parabenizando por estar de volta era uma grande vitória. Tratou de sentar e cortar o primeiro pedaço de bolo. Felicidade, tranqüilidade, paz, alegria. Há muito tempo não sentia isso. O hospital deixava-o deprimido, mesmo assim sorria. As lições que procurava passar sempre foram bem vindas. Suas palavras eram sabias, penetravam o intimo das pessoas.

Antes de comer o primeiro pedaço orou, agradeceu por estar ali, e pediu para que todos pudessem desfrutar de muita paz. Estava carequinha, e gostava de estar assim. Dizia que era a única coisa boa da quimioterapia. Enquanto comia tiravam varias fotos dele e seu irmão. Gostava de brincar, e via em seu irmão um companheiro fiel.

Após comer, pediu para ficar sozinho e ler as cartas que tinham escrito para ele. Era um momento único e pessoal. A cada carta que lia, momentos marcantes passavam em sua cabeça. Após ler a ultima carta fechou os olhos e refletiu sobre tudo, e sobre o momento que estava passando.Ficou um bom tempo com eles assim. Depois se levantou, e chamou todos.

Naquele momento de emoção, ele acalmou-se e pediu para falar. Gostava de libertar seus sentimentos, tocava as pessoas com palavras. Quando todos estavam quietos, observando sua pessoa, começou a falar:

-"Não acrescente dias a sua vida, mas vida aos seus dias." (Harry Benjamin)

Bom, enfrentando essa doença, pude entender que nem sempre sabemos o que significa viver. Não aproveitamos a vida da maneira certa. A vida é para ser vivida intensamente. Não devemos temer o depois. Temos que aproveitar o presente. Porque o depois? Ele não existe. Temos que procurar a essência, o sentido da existência, assim desfrutaremos mais dos momentos que tivermos. Temos que procurar aprender sempre. Com os erros e acertos. Com os gestos dos outros, ou os seus. Com tudo ao redor. Ver com humildade o que a vida oferece. Entendi também, que somos únicos. E que devemos fazer da nossa vida uma grande peça de teatro onde nela somos os atores principais, como diz Augusto Cury em seu livro. Temos que nos sentir únicos, pois somos únicos. A vida é única.

Após falar, ficaram todos em silêncio assimilando as palavras proferidas por ele. Seu falar era especial. Ele estava feliz, feliz por saber que todos ali estavam fazendo parte do seu teatro, da sua vida, da sua história...

Assim como ele fez parte da história de todos que conviveram com ele. Um grande exemplo de luta, de pessoa, de vida.

Uma pequena homenagem ao meu eterno irmão. Alberto Coimbra Chaves. Um verdadeiro herói.

Carlos Chaves
Enviado por Carlos Chaves em 09/03/2010
Reeditado em 12/03/2010
Código do texto: T2128154
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.