"O VIGILANTE!"

Pronto, e agora, onde ela se meteu, por onde ela foi cadê ela? – pensou o irmão, atrás da irmã. Caramba e agora o que vou falar para nossa mãe - falando alto. Lembrou do que a mãe lhe disse:- Vá atrás dela e veja se vai mesmo para a escola, ou se vai ficar perambulando por aí, oh! Menina levada, rueira. E agora o que dizer, vou acabar apanhando, ou no mínimo uma bronca, no lugar dela.

Ela estava no primário, uns oito ou nove anos, a escola ficava algumas quadras, só que uma antes havia um terreno baldio, de onde fizeram um caminho e para não dar a volta ela atravessava pelo mato alto. Saiu de casa e se fosse prestar atenção no irmão, veria que, apesar do mau humor, estava pronto para seguí-la. Esperava chegar à esquina da rua e saia em desabalada carreira, parava atrás do poste, e a baixinha só na posse do seu direito de ir para a escola, sem sequer imaginar que um moleque metido a besta estava seguindo, e procurando saber aonde iria. E o terreno que ela sabe muito bem, deixava a ele mais bravo ainda. Para a direita, corria para a esquerda. Voltava para o meio do caminho e nada. Agora para a esquerda, corria na outra rua que era paralela à da escola, e pronto. Onde está a minha irmã, se perguntava. Isso por um pouco de tempo. Resolvia esperar direto na entrada da escola. E aparecia com a tagarelice própria da idade. E ele assim, fez o que nesse período. Foi com quem. Essa minha irmã é mesmo difícil. Vou inventar que a acompanhei até a escola e pronto. A minha mãe não vai saber. Eu sim. Agora a minha irmã também. Teve uma vez também, que ela só soube depois de já ter casado e os filhos já crescidos, uns meses após o falecimento de seu pai, num dos encontros do chá da tarde com sua mãe, lhe confessou que de vez em quando seu irmão, o vigilante, ficava escondido na porta da escola ginasial, esperando sua saída e evidente que a seguiria, pois ela chegava sempre tarde em casa. E assim foi, ao sair da escola, seu irmão, o vigilante, foi atrás, como ela nunca percebeu nada, juntou-se com mais algumas amigas e lá foram para o centro da cidade. Olhavam as vitrines de todas as lojas, uma por uma, comentavam sobre as roupas expostas, riam, brincavam entre si. Havia uma loja por aqui famosa “Americana”, era variada de produtos, como roupa, utensílios de cozinha, discos, doces, salgados, presentes, material escolar, brinquedos etc. No piso superior o qual tinham que subir por uma escada rolante, e elas adoravam principalmente a rueira levada, havia uma lanchonete onde saboreavam o lanche. Na volta para casa, não percebiam aonde iam, por causa da farra, acabavam por parar em qualquer parada de ônibus. Uma a uma ia se despedindo e tomando o ônibus de volta para casa. A rueira-levada, só percebia onde estava quando ficava só, pois sempre era a última a pegar a condução, morria de medo, pois aquela parada de ônibus ficava bem no centro de casas noturnas, como diziam casas da luz vermelha, para ser bem claro, prostituição. Já estava noite quando sua condução chegava e assim ela, ia para casa, a mãe a sua espera, às vezes só bronca, às vezes uns puxões de orelha, dependendo do que o irmão, o vigilante, lhe dizia. Mas nada disso adiantava, ela tinha medo do escuro, medo de que alguém lhe fizesse algum mal, mas isso não a impedia de no outro dia estar lá outra vez. Muitas vezes ele não conseguia saber aonde ia. Ela simplesmente subia para o ônibus e o irmão vigilante contava mentiras para a mãe, dona Lourdes, coitada. Só mentiras. Que via a irmã sair com umas amigas e que foi para a casa delas. E ele voltava, cansei mãe, não vou mais seguir não. Está tudo certo. Ela é grande. Salvando assim a irmã na ida das “Americanas” e de outros lugares. Rueira. Às vezes seu irmão, o vigilante, não conseguia ir atrás porque ela bolava aula, ah sim! Pulava a janela do banheiro, pois a escola era uma casa antiga, e suas janelas eram grandes e sem grade, uma a uma ia pulando, enquanto uma delas ficava de olho se alguém aparecia, mas um dia, descobriram e então nunca mais bolou aula, pelo menos nessa escola... RS.

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Testemunho do irmão, “O Vigilante”.

No final foram poucas as vezes que consegui seguir completamente você. E depois desisti. Seguia uma parte, você atravessava o mato para a escola, eu voltava e dizia isso para a mamãe. Que foi sim. Agora, que cabulava aula, não sabia também. Você foi mesmo uma rueira. Aproveitou bem a vida. Eu ficava lendo em casa a tarde inteira e se deixasse à manhã também. Escola cedo e a rueira à tarde. Programa de índio, isso sim. Mas quer saber, você estava mais do que certa. Aproveitou legal. Mas recebo bem o agradecimento por poucos puxões de orelha. Tudo isso é porque o “irmão vigilante” era um grande mentiroso. E só agora você também ficou sabendo, tarde demais. O dia que acabar a mentira o mundo estará perdido. Acaba tudo. Inclusive a amizade e a irmandade... rsrs.

Marco Antonio (o vigilante secreto e agora desvendado para a eternidade).

Um beijão.

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Agradecimento ao irmão “O Vigilante”.

Obrigado pela vigia, segurança e proteção meu anjo da guarda. Desculpe pelo aborrecimento, pelo mau humor e pelas mentiras.

Te amo

Beijussssssssss

Ana Maria (sua irmã a vigiada... rs)

ARACHIN
Enviado por ARACHIN em 18/03/2010
Código do texto: T2146388
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