UM CAIPIRA VALENTE - 1. Aventura.

UM CAIPIRA VALENTE

AVENTURA.

Lucas Durand

— 1 —

Três rapazes estavam nas imediações da pequena e simples rodoviária de uma cidade do interior debaixo de uma árvore. Eram 8 horas da noite. Cada um, com sua lata de cerveja em mãos, e um cigarro de maconha era repassado entre eles. Junto a eles, três motos. Olhavam para a jovem que saia da lanchonete com mais três latas de cerveja. Ela aproximou-se deles.

— Esse festival de música vai ser um barato! Virá muita gente de fora... Podemos escolher à vontade — disse um deles, depois de olhar para um ônibus que estacionava na plataforma. Os passageiros desciam. Alguns traziam consigo seus instrumentos nas devidas embalagens.

— Olhe que gata — murmurou o mais baixo dos motoqueiros. — Que delícia!

— Vai ser moleza — comentou seu colega, repassando o cigarro de maconha.

— Muito cuidado! Não se esqueçam disso — disse a jovem, dando um longo “tapa” no cigarro também.

— Nossa... hoje você vai ficar beleza, hein! — exclamou com certo deboche o mais alto deles, ao notar que a colega dava longos tragos na “guimba” de maconha.

— Não enchem meu o saco!

— Você não tem saco, chefia — brincou o mais alto.

— Vamos "trabalhar", meninos — disse a jovem, ao ver a linda morena, cabelos cacheados, entrar na lanchonete da rodoviária. Trazia consigo uma bolsa a tiracolo e uma pequena mochila. — Que corpo. Vamos nessa! Saem bem devagar sem levantar suspeita. Um de cada vez. Eu vou pegar o carro.

A jovem sentou-se num banco junto ao balcão da lanchonete. Pediu algo para comer e beber. Um lanche. Ao pagar a conta, revirou sua bolsa sobre o balcão a procura de sua bolsinha de moeda. Juntou mais algumas notas e entregou à garçonete. Agradeceu e saiu solitária pela rua meio escura, rumo ao centro da cidade.

Os rapazes montaram em suas motos. A jovem que saia da lanchonete virou a esquina em passos lentos.

Um carro aproximou-se da jovem.

— Olá querida. Pode me dar uma informação? — perguntou a motorista delicadamente.

— Não moro na cidade. Vim para o festival de música.

— Eu também vim para o festival. Estou procurando uma pensão. Não quer uma carona? Deve estar pesada esta mochila.

— Eu também procuro uma pensão. Se não se importa — e entrou no carro.

— Será um prazer! Aceita uma bala? Tem um recheio gostoso...

— Obrigada.

Na Fazenda Ponte Funda, município vizinho, um dos peões estava preocupado.

— O que esta preocupando você, Ozóro? — perguntou seu patrão, junto às baias. Além da criação de gado de raça, a propriedade possuía um haras, e seus cavalos de corrida vendidos caros e ganhadores de inúmeros prêmios pelo Brasil e no estrangeiro.

— Bianca, patrão... Num vortô ainda.

— Deve estar a caminho.

— Se inté manhã ela num vortá, cum sua permissão, quero ver o que acunteceu.

— Claro! Mas, acho que nossa Patativa deve ter ganhado o festival. Deve estar atarefada assinando algum contrato por aí — e riu. — Ela canta muito bem.

— Eu dice pra ela mode telefoná pra fazenda. Ela num deu nutiça ninhuma.

— Entendo sua preocupação, Ozóro. Amanhã pode selar seu cavalo e ir.

— Vô saí bem cidinho, patrão. Discurpa fartá na lida. Já trabaio há um ano pro sinhô, nunca fartei no sirviço.

— Sem problemas... Sei que ela é sua única companhia, além de nós aqui, claro.

— Minha fia é a única coisa que me restô do meu sangue. Não tenho mais parente nesse mundo. Depois qui minha muié morreu, só me resta ela.

— Eu sei... Qualquer coisa que precisar, eu estou ao seu dispor.

— Eu gradeço muito, patrão.

— Você tem apenas uns 45 anos, Ozóro, por que não se casa novamente?!

— Ah, patrão, eu vivo filiz anssim cumo sô. Tenho qui cuidá de minha fia, trabaiá, num sobra tempo mode pensá nessas coisas.

— Certo. Sei que você não tem parente algum por aí. Somente sua filha.

— Eu gradeço sua confiança, patrão. Isso aqui é minha vida. Se Deus quizé, vai dá tudo certo. Discurpa eu tê qui saí anssim.

— Se Deus quiser vai dar tudo certo... Volte logo!

...

Lucas Durand
Enviado por Lucas Durand em 22/03/2010
Reeditado em 27/03/2010
Código do texto: T2152050
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