.olívia.

Olívia prendia os cabelos delicadamente, aliás, como era de se esperar. Era uma moça de gestos extremamente femininos e cautelosos.

Estava meia hora atrasada, segurando o chapéu nas mãos cobertas com as luvas de pelica negra, com aquele vestido de viscose, bege, no corpo ajustado.

O balangandã no meio do salão denunciava que a noite ia mesmo ser quente.

E a coqueluche do momento era a última película do James Dean. Era mesmo o auge. Os brotinhos chegavam com suas calças coladas, aquela brilhantina gosmenta nos cabelos. Olívia tremia com os desejos presos na garganta.

E o salão lotava ao som daquele be-bop, fazendo todo mundo remexer os quadris.

Olívia não dançava. Tinha pudores - ou deveria demonstrar que os tinha. A mãe da Betty estava sentada havia duas mesas. A mãe da Betty sempre falava demais.

Olívia só cantarolava o inglês que nunca ousou aprender. Errando mesmo. Mas, sem jamais perder o tom. Contendo a vontade de levantar um pouco aquele saiote. Deixar as meias de bolinhas mais de fora. Afinal, não tinha graça comprar o produto dos ingleses se a propaganda de tê-lo fazia-se boca a boca.

Olívia queria, sim, mostrar o rebolado, tímido e delicado, exalar seu perfume importado.

Qualquer broto ficaria ali embasbacado. Certamente.

Mas, Olívia nada fazia. Sentada ficava. Bebia uma soda gelada. Talvez um milk-shake de morango. E só.

Não dançava. Nem cruzar as pernas, cruzava. Não se insinuava.

Olívia era moça de família. De comportamento prudente.

A mente.

Bem, a mente era assim meio indecente.

ana maria de queiroz

21/IX/2007

Ana Maria de Queiroz
Enviado por Ana Maria de Queiroz em 29/03/2010
Código do texto: T2165474
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