Depois

O problema é o antes. Por que o depois sempre é bom. Depois da dor, do sofrimento, do constrangimento, da falta de amor, tudo tem de sobra, você sempre faz questão de me mostrar as maravilhas que eu posso ter com você. Mas eu acho que depois de tanto já vivido a ferida já não sara mais, mesmo que você sopre e cuide com tanto carinho. Você é maravilhoso, doce, meu. Depois. Mas eu sou a chata, a insistente, a que chora e esperneia por que sabe que eu não preciso mais passar por certas situações. E por que eu não vou embora? Por que eu sou um tipo raro de pessoa. Eu estou no barco furado, eu sei, mas continuo remando por que eu gosto de ver o céu e o mar. Um dia afunda, eu me afogo e nunca mais vou ver nada, mas eu continuo ali, firme, forte, cheia de vontade de que as coisas dêem certo. E você, depois das chuvas, trovões e tempestades da sua grosseria, me promete tentar e mudar e ser tudo o que eu mereço e não me deixa ir embora. Será que não é melhor? Ir embora, ficar sozinha e pensar o que realmente importa? Eu sei o que é, mas é que quando eu estou com você nada mais importa, só você. Isso é bom? Não sei. O que fazer? Ficar por que é seguro ou ir embora, arriscar, quebrar a cara talvez, aprender e enfim ser feliz. Ser feliz... Eu não sinto falta não, você me faz feliz demais. Depois, por que antes sempre ter que ter algo que me faça ir ao fundo do poço. Todo mundo diz “ele te ama, é tão bom pra você”. Mas é que ninguém sente na pele, eu sinto e digo: é bom, muito bom, depois. Depois, depois, depois. Eu to tão cansada desse script. Eu engoli uma tonelada de “depois” e similares nesses quase dois anos. Eu não era assim, mudei e melhorei muito, mas choro demais. Eu não quero mais sofrer, nem agora, nem depois. Então por que eu não vou embora? Eu não sei. Talvez. Depois que eu não suportar mais, quem sabe. Lá vem ele de novo, “depois”.