O TEMPO, senhor de vida e morte. (Normanda) Lia de Sá Leitão -19/8/2006

Quando ela entrou naquele vôo de volta trazia no âmago o segredo do filho e o silêncio da decisão. Era o fim do ontem, sem a espera da continuidade daquele relacionamento aparentemente feliz, socialmente correto. Desceu do carro, olhou a paisagem externa como um último adeus e a passos lentos adentrou no salão do aeroporto, dirigiu-se ao balcão da Companhia cumpriu todas as exigências e seguiu até o portão de embarque, permanecia acalada,o companheiro ao lado sentia algo estranho e indecifrável, ele casmurro, ela pisa forte o chão como quem decide as duas vidas. Ele a segura pelo braço e beija leventemente nos lábios carmim, despede num último olhar um pedido de perdão, um desejo de faze-la deisistir, segura-a nos braços com mais força e abraça o corpo de mulher que não expressa nenhuma reação, nenhum tipo de reciprocidade; ela num momento de lucidez, arqueou as sobrancelhas, costume antigo, olhou-o por cima das lentes dos óculos de sol, esborçou um sorriso apagado, infeliz, e adentrou o local de embarque. Não sentia vontade de olhar para trás, mas ele a chamou, ela estanca na porta de vidro, olha ligeiramente a cena, lembra um filme Hollywoodiano, acena um adeus com uma das mãos e some em meio às outras pessaoas. Olha o relógio, olha que observa o mundo, fala com a vida que trazia em si, não precisamos chorar, vamos vencer! Você dá a coragem e a minha alma e eu protegemos você como a mãe que ama incondicional o filho que chega. Hora inóspita seguir vôo! um lampejo de desistência atravessou seu pensamento, mas as pernas não obedeciam o rápido desejo de volta. Seguiu para vida como quem fecha mais uma porta e tenta esquecer o passado, seus matizes, seus momentos bons, a luz que insistia em não apagar. Ela senta junto a janela brinca com o ser que ainda se acomoda em seu ventre e diz baixinho numa confidência de brincadeira, olha a ali, não são formigas são pesoas, eles sorriem, sentem dor , maltratam, por que são tão humanos quanto eu e vc, mas eles naturalmente também não se humilham diante do outro, nem se envergonham de ser o que são. Ela sente uma felicidade abraçando a esperança de vida nova, reconstrução, ainda bem que os homens são falhos, se fosse robotizados e perfeitos não exerceriam poder de mudanças e sim uma reposiação de peça em série substituindo o conjunto danificado de roelas, parafusos, pregos, tecidos sintéticos. Ela precisava urgente entender seus sentimentos, dores, enfim o coração, mas teria que aceitar o momento da reconstrução.

O que fazer, com um filho que jamais conheceria o pai. Ele orgulhar-se-ia da mãe que seria a sustentação da vida ou odiaria em silêncio a decisão de ruptura com o macho do clã?. como seria a falta da presença masculina, que fazer? O futuro parceiro aceitaria o filho de ninguém? Entre uma pergunta mais complicada e outra a alma fervia de ansiedade pela volta à casa paterna,quase um sentimento egoísta, era tão filha quanto aquelas células, a perpetuação da vida e o basta de um relacionamento que nunca existiu. Ela deixou-se chorar e pensou no tempo.

O tempo passa como o grande feiticeiro curano dores, mágoas, machucões, ora protege, ora mostra a falta de colorido do homem que se olha sem se ver. Mesmo o grande dono de todas as situações de saber, mando e desmando, alado, saudável, doentio, não desperdiça a hora.

O Tempo esse mesmo senhor das benesses também senhor de todos os senhores. Possuidor também da crueladade e implacável galanteador. alardeando e sorrindo aos quatro ventos a capacidade de ser.

Quanto ao jovenzinho, parecia entender todos os arroubos dos minutos e subserviente aguardava sabiabente o seu caminho de crescimento, mantinha-se indubitavelmente ansioso para ver a Luz, os toques da mãe, o cheiro da vida, o Tempo aliado das feras mais terríveis da criação decidiu apagar a esperança captando para si o jovenzinho que ainda tomou o gládio e enfrentou os leões numa arena enorme, na verdade um terreno bem maior que seu tenro corpo podia suportar e o Tempo levou-o consigo qando caiu exausto na batalha e nunca mais voltou.

Ela olhou o mar, e seguiu de cabeça baixa pelas areias molhado os pés na água verde esmeralda que as rendas velhas presenteavam aos amantes que se beijavam à beira da praia e voava como fitas desalinhadas aos chutões dos pés da solidão.