Batalha

Eu estava ali...mais não era eu.

É tudo tão estranho...eu me lembro de cada perfume...de cada toque, sensação.

Eu me lembro do medo...

Mais tudo que eu vi e vivi, foi de um outro angulo.

Como se estivesse assistindo a um filme.

Eu me via ali...mais não era eu.

Eu sabia exatamente onde estava escondido o punhal...

Mais o eu em ação não sabia, e não me ouvia aos berros: dentro do baú!! dentro do baú!!

Foi tanto horror e desespero...eu precisava encontrar o punhal...precisava cravar no peito do meu inimigo...

Um punhal amaldiçoado, que somente quando usado por mim, poderia matar um demonio sem corpo...

Mais eu não me ouvia..é como se eu não estivesse ali...mais eu estava!!

Nos dois mundos.

O tic tac do relogio era infernal...minha cabeça girava...aquela repetição me atormentava...tic tac tic tac tic tac tic tac...

Coração batendo acelerado tumtum tumtum tumtumtum tumtumtum tumtumtutmtutmtutmtutmtutmtum...

O vento...a noite que sempre calada, naquele momento gritava...tudo aquilo estava me desorientando...a sinfonia dos horrores marcava compasso em minha mente fértida que logo previa o ápice com o meu fim!

Medo medo medo...era incontrolavel, subia pelo meu corpo, exalava em meus poros...Não! eu não podia me deixar dominar...somente uma alma corajosa poderia mata-lo...Por que!? Por que eu?...por que me escolher...quem foi que disse que eu tinha uma alma corajosa?

Porque estou vendo tudo isso de longe...seria isso uma lembrança? uma premonição? ou ja estou morta e meu corpo ainda não se deu conta de que minha alma estava longe?!

Sinto o cheiro...enxofre e rosas...algum tipo de lavanda, alfazema misturada ao enxofre...algo que queria me acalmar junto a algo que me trazia desconforto...seriam dois? ou um unico espirito querendo me confundir...será que consigo não cair na armadilha e enfiar o punhal no peito com toda a furia que tiver em mim?!

Está frio aqui, cada minuto que passa fica mais escuro, mais molhado...não sinto mais meus pés tocarem o chão...

Deus, onde está esse punhal?!...ouvi meus gritos ensanos e a voz distorcida....ouvi também risos frios e tremi.

Não ria de mim demonio insolente...não sou eu quem será condenada a vergonha eterna essa noite...não ria de mim...não me desafie...posso fazer além.

Posso ter menos medo...posso te prender em mim, e será eternamente atormentado em meus delírios e meu suicidio diario.

Idiota, voce não faz idéia do que é ser eu...em como minha alma é atormentada e meu espirito insano...

Talvez não saiba o que realmente é uma guerreira...o verdadeiro significado de sermos escolhidos e os unicos que podem vencer uma batalha como essa.

Imbecil inútel...somente sendo louco é que se pode ao mesmo tempo estar em dois mundos...sentir todas as sensações ao mesmo tempo...se manter acordada e mentalmente sociável enquanto num outro mundo desconhecido, numa floresta negra e vazia, se procura um punhal para cravar no peito de um demonio inescrupuloso condenado.

Nessa noite somos apenas nós...eu e voce, iremos dançar o choro da morte...passos sincronizados...um leve sorriso em meus labios...voce vai tentar me seduzir, e eu cairei em teus braços...mais num segundo algo irá passar por mim...olharei seus olhos e verei toda a maldade e dor que causou...cravarei o punhal em seu peito...uma fumaça passará por mim...meu cabelo ficará mais negro, solidão....irei voltar a mim....e sei que voce, algum dia...em sua prisão...terá a oportunidade de se vingar...porque sei que um dia estarei no mesmo lugar...meus passos me guiarão, e minhas escolhas me condenarão...neste momento não sei se conseguirei seguir rumos diferentes...ou se realmente é verdade...se apenas estou louca ou se tudo que sinto é real.

Não era eu...mais eu estava lá.

(parte I)

Beatriz Borghesi
Enviado por Beatriz Borghesi em 04/05/2010
Código do texto: T2235784
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