SONHO DE VALSA*

- Aceita dançar?

- Como? Desculpe sou casada. Não sei...

- Não sou ciumento.Permite?

- Desculpe. Estou acompanhando minha filha.

- Você está sozinha. Estou vendo. Tão linda.

- Obrigada. Não sei. Acho que não.

- Esta rosa é para você por favor, aceite.

- Por favor senhor, eu aceito, mas meu marido ... - É um bolero...

- Não, é uma valsa.

- É. Na verdade entendo muito pouco de música. Gosto. Mas, a vida me levou por outros caminhos. Quer saber, na verdade eu nunca dancei, nunca frequentei um baile, nunca tive em meus braços uma mulher.

- Por favor.Não exagere.Olhe..Me deixe pensar. Daqui a pouco eu resolvo. Obrigada.

- Pensou?

- Está bem, uma só.

- Acho que estou louco. Nunca em minha vida tive tamanho arrojo. Eu te agradeço por aceitar, mas me desculpe, não sei dançar. Você é minha música, meu ritmo, minha esperança de não decepciona-la.

- Acho que você dança bem.

- Obrigado Simone.

- Como sabe meu nome?

- Não sei, mas acho que este nome frequentou a minha vida. Realmente também não sei. Acertei? Como pode? Escute, Simone é o nome que embalou todos os meus sonhos. Não sei porque, mas sempre soube que a minha felicidade estava ligada a este nome.

- Estás brincando comigo.. Por favor estamos muito juntos. As pessoas...

- São dois pra cá, dois prá lá. Você é maravilhosa...

- Obrigada... Minha filha está olhando... Não exagere.

- Não resisto.

- Por favor... Encoste os lábios ao meu pescoço. ... Fale mais. Não... Pare..

- Pense que meus lábios podem percorrer além de seu pescoço, minha língua está ansiosa para percorrer seu colo, e, mais além, circundar seu umbigo, descer em seu sexo e coxas,

lamber seus pés , tirar seu fôlego e desmaiar de paixão.

- A música...

- Desculpe. Mas estou neste momento vivendo algo que nunca havia sentido.

- Eu compreendo. Está bem. Você está me tirando do sério. Sou casada.

- Desculpe. Acho que realmente passei do limite. Na verdade fiquei louco, ou, achei o amor da minha vida.

- Você me tirou do sério. Não brinque comigo. Eu... paixão. Fale mais, seja sincero

- Embora você não acredite, estou sendo eu mesmo como nunca fui, jamais me senti assim. Será que é paixão? Estou sentindo suas coxas mais disponíveis aos passos mais desejados, solte-se. Nada mais acontece neste salão, a não ser a música, nós dois, e a volúpia que embala o ritmo de nossos corpos.

- Tenha piedade, nem ao menos sei seu nome , Tá bem, estou completamente seduzida. Farei tudo que você quiser mas por favor seja discreto, todos nos olham. Minha filha está nos observando, contenha-se

- Ela está sorrindo...

- É verdade. Está com certeza se divertindo a minha custa. Será que ela me compreenderá?. Na verdade não quero mais pensar nisso, aperte-me, beije meu pescoço, me leve daqui. Ai, meu Deus. Te adoro. De onde você apareceu? Meu amor. Querido...

- Vamos para a minha casa?

- Vamos Alcides.

- Que surpresa! Como descobriu?

- Acho que nasci para amar alguém com este nome. Acertei?

- Na mosca. O inconsciente se manifestou nos fatos e na vontade, somos as metades que se juntaram pela força do amor.

- A música acabou. Por favor tire a mão do meu decote, podem reparar.

- Sabe, minha vida começou aqui. Vamos embora. Venha comigo.

- A menina , minha filha. Está bem, me entrego ao destino, vamos.

- Se somos ou estamos loucos nos entreguemos a loucura. Ela que nos aguarde. Salve a loucura. Viva o prazer.

- Também estou feliz.

- Meu amor.

- Minha paixão.

- É aqui, querido?

- É meu amor, aqui termina esta noite e começa o resto de nossas vidas. Onde estão as chaves ?

- Você deixou com nossa filha. Ela ficou com o carro; a chave, no chaveiro.

- Puta que pariu. Deste jeito não há tezão que agüente Assim não dá.

- Calma querido. Achamos outro jeito. Vamos para um motel?

- Motel? Você quer ir para um motel ? Ta maluca mulher? Vou levar a mãe da minha filha pra um motel em plena sexta feira. Ficar na fila com adolescentes gozando nossa cara? Vê se te enxerga, cansei dessa tal de fantasia sexual. Vá a merda pois eu vou dormir na garage.

* Extraído do E-book A PORTA DA PALAVRA publicado neste site.

Humberto Bley Menezes
Enviado por Humberto Bley Menezes em 24/08/2006
Reeditado em 26/08/2006
Código do texto: T224300
Classificação de conteúdo: seguro