O Queridinho da Mãe.
 
Ela se casou para sair do interior e vir morar na cidade grande. Ele se casou com ela porque a amava e muito. Após um ano de noivado, os dois se casaram no interior. Ela veio morar na cidade grande, na casa que ele alugou e montou. Casa simples, mas com dois cômodos, cozinha, banheiro e grande quintal. No banheiro, até chuveiro elétrico havia!

Após alguns meses, ela recebeu uma carta do seu irmão que queria sair do interior e vir para a cidade grande. Contou ao marido o desejo do irmão de querer morar um tempo com eles, até encontrar um emprego. O marido foi categórico. Disse-lhe que não aceitaria porque havia casado com ela e não com a família. Ela que já não amava o marido, passou a odiá-lo.

Um ano depois do casamento, uma menina nasceu. Não foi bem quista pela mãe. A criança a obrigava a morar com o marido. Nada faltava à mãe, mas ela nunca chegou a gostar dele. Amar então nem se fala! Anos se passaram e ele muito amava as duas. O pai, aos domingos, ou levava a filha ao cinema para assistir desenhos ou todos iam à casa da avó paterna. Lá almoçavam, deixavam a filha com a avó enquanto aproveitavam para ir ao cinema. Uma vez por mês, iam almoçar na casa da avó materna e à noitinha voltavam para sua casa. O pai muito trabalhador, nunca faltou um dia no escritório em que trabalhava como contador. Ela cumpria com as obrigações da casa. E assim viviam.

A menina já estava com seis anos e sempre amedrontada, notava que a mãe há anos vivia aos gritos e ralhava muito com ela, falava coisas que ela não entendia, como por exemplo:- Por sua causa eu tenho que viver com o verme de seu pai, sua maledeta. Oh! Deus, que mal eu fiz para sofrer tanto?

Assim que entrou na escola primária a menina perguntou à professora o que queria dizer maledeta e verme. A professora explicou por cima e ela também mal entendeu, mas nunca se esqueceu dessas palavras ditas pela sua mãe. Às vezes a menina pensava que era então filha de um verme. Daí menos entendia. Somente alguns anos depois a filha acabou entendendo bem tudo que se passava.

Em seguida nasceu um menino. Ah! O menino passou a receber todo o carinho da mãe que até então ninguém em casa recebia. Não somente carinho, mas um amor enorme dedicou a esse filho. O melhor pedaço do frango era para o filho, o pudim que ele gostava ela sempre fazia, e assim foi, abertamente, pela vida inteira.

O pai faleceu em 1965 e a mãe se foi há quatro anos.

Até hoje a filha sente a falta de amor que sua mãe nunca lhe deu. Será que ontem o queridinho da mãe se lembrou dela?
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 10/05/2010
Reeditado em 16/01/2017
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