OS SEIOS DE S.

Os seios de S.

(Baseado em fatos reais. Uma homenagem para meu amigo Rnm.)

Os seios de S. me fizeram sucumbir naquele momento. Fingi ajoelhar para tentar ouvi-la melhor. Perguntou algo sobre as explicações da aula. Hã? Não ouvi. Foi o que me ocorreu na tentativa de ganhar tempo para respirar, pensar. Ela repetiu a pergunta de forma mais lenta. Eu vagamente olhei pra cima, na direção que me apontava os seios de S. Não ouvi sua voz. Também não pude ouvir seu coração. Ouvia só os seios de S. que saltavam do corpo com atrevimento, e terminavam em bicos carnudos que queriam porque queriam a liberdade privada pela blusa. Chamavam-me. Tinham vida própria. Salientes. Envolveram-me em sua conversa, no capricho de suas formas, nos imprevistos de suas curvas. Mergulhei em seus encantos. Seios que cantam como as sereias. Hipnose. Seios de índole indomesticável. Seios traiçoeiros, envolventes. Mesmo escondidos pela blusa, eu podia imaginá-los balançando arfantes à minha frente. Próximos à minha boca. Meus lábios fazendo bico para sugá-los esfomeado. Pobre S. Mal sabia ela que seus seios eram rebeldes. Escondê-los atrás da blusa azul era como tentar esconder o sol numa manhã de verão.

Ela pergunta novamente; E ai, o que você acha?

Respondi qualquer coisa sem nexo. Consegui desviar o olhar, mas não a intensidade dele. Fixo, faminto. Fatigado.

Era algo sobre o modernismo. E tentando transparecer a compostura de um Mário de Andrade, respondo como um Macunaíma. E os seios continuam com a brincadeira de cutucar meus pensamentos. Espetam-me. São pequenos, mas indecentes por natureza. Atraem-me de maneira impiedosa. Sinto algo enrijecer em meu corpo fazendo ferver meu sangue em ebulição enquanto eles continuam a dançar à minha frente, inocentes e provocativos. Meu corpo queimando. Respirei profundamente. Aspirei. Senti o gosto rosado das aréolas em meus lábios. Abri os olhos e tentei manter a lucidez para entender que meu desejo deveria ser retido para não causar uma tragédia na sala de aula. E como se o néctar de seus seios tivesse descido pela minha garganta, engulo seco e respondo macunaimícamente:

Ai que preguiça!

Saio correndo da sala, envergonhado. Lá fora, encontro alguns amigos na mesa de um bar, sento para tomar uma cerveja. Esfriar a cabeça. Alguém devaneia sobre o fim do mundo. O buraco negro. O Big Bang. Ligo o nome aos seios de S.. Dois mundos. Uma explosão. Glóbulos que se chocam. Que chocam. Algo a ver com a teoria da relatividade. Teoria comprovadamente inexistente aos seios de S.

E penso:

Se o mundo acabar num buraco negro; que sugue a todos, fazendo com que o tempo se torne literário. Inexistente. Quero voltar no vácuo. Quero morrer criança. Sugando toda a vida que há na eternidade dos seios de S.

Marcelo Nocelli

19/05/2010 numa noite comum, após algumas biritas nessa nossa Paulicéia Desvairada de Macunaímas à lá Mixto Quente (Bukowski) que somos!