CAÇANDO FANTASMAS

Depois da história da aposta que ganhamos eu e o Olímpio por termos tido a coragem de trazer uma caveira do cemitério em troca de uma caixa de cerveja, nossa fama despertou curiosidade e casos surgiram de casas mal assombradas. Como valentes caçadores de fantasmas, propusemo-nos a desvendar tais mistérios. Eu muito sedo perdi o medo graças a minha mãe que me pegava pelo braço e me jogava em cima do fantasma que não passava de um pano branco esquecido sobre a cerca de Maricás. Ou que as batidas na escada eram do cachorro coçando as pulgas ou abanando o rabo. Depois ao longo da vida e por ter passado por casos diversos, convenci-me de que não existem fantasmas. Existem alguns fenômenos inexplicáveis, cujo medo nos leva a ver fantasmas. Havia uma casa à margem da estrada, tida como assombrada. Ouviam-se arrastar de correntes, gemidos e outros barulhos estranhos. Resolvemos então verificar pessoalmente e tentar um contato com tais fantasmas. Havia gente que afirmava ter visto hora um homem, hora uma mulher de branco parada à porta de entrada já em ruínas.

A casa era uma construção em estilo colonial, com restos do que deveria ter sido uma tinta verde, manchada por musgos e rachados pelas paredes meio incompletas. Preparamos nossas mochilas de pescaria, lanternas de mão e claro que o Olímpio embrulhou umas velas para acender aos fantasmas, só por segurança é claro. Jantamos e saímos para a empreitada, obviamente sexta feira e coincidentemente de lua cheia. Depois de examinarmos o local minuciosamente preparamos nossas camas, no chão mesmo e ficamos contando histórias e creio que pegamos no sono lá pelas 23,00 h. Claro que ouviam-se estalos, barulhos de ratos ou gambás típicos do local. Nada que assustasse. Acordamos com o tal barulho de correntes, verdadeiro, claro e nítido. Lanterna em punho nos levantamos e começamos a vasculhar o local tentando aproximarmo-nos do barulho, mas, a medida que andávamos, parecia que se afastava. –Quem está aí? Arrisquei. Nada, só o barulho. Começou a ventar e uns galhos roçavam em uma calha fazendo parecer que alguma coisa se arrastava. E o vento produzia realmente um barulho semelhante a gemidos. Fora isso, fizemos tentativas de contato, indagando e até caçoando.

– Puxa seu fantasma dá uma colher! Vamos conversar se puder a gente ajuda! Nada! Acordamos na manhã seguinte e fizemos uma análise minuciosa do local tentando desvendar o arrastão das correntes. Não descobrimos nada. Não vimos ninguém e chegamos a conclusão de que fora as correntes, o resto era explicável.

Trabalhávamos na cooperativa e nesta época estudávamos a noite no colégio das freiras. Voltávamos a pé, pois não havia ônibus esta hora, cerca de 23,00 h. Era quinta feira e vínhamos andando mal vendo a estrada de chão batido que apenas vislumbrávamos por uma tonalidade ligeiramente mais clara em contraste com a noite escura. Uma longa curva para a direita, na época conhecida como a curva dos Borges, ostentava uma plantação de Eucaliptos, altas árvores a muito passadas da época de corte. Repentinamente à uns 80m do inicio da curva, começo a ver uma igreja, com torres laterais, a nave central e uma grande porta de entrada. Pensei “E de onde saiu isso? Nunca teve uma igreja aqui!”

– Você está vendo o que eu estou vendo? Perguntou Olimpio com uma voz quase inaudível.

-Estou! Respondi.

– E agora?

– Vamos em frente sem olhar. Colocamos os livros sobre o ombro, tapando a estranha visão e seguimos caminho, evidentemente arrepiados. Dia seguinte, sexta feira, mesma hora eu vinha sozinho, o Olímpio faltara a aula e eu me perguntava se seria por medo da visão. Mais ou menos a mesma distância começo a ver novamente a bendita igreja, só faltava o padre a porta esperando os fiéis. Parei! Analisando a situação. Bem, teria de enfrentar o problema e decidi encarar, respirei fundo e avancei desta vez decidido a solucionar o mistério. Ao aproximar-me, a igreja parecia mais real e eu me arrepiava todo, mas, tinha que passar por ali. Quando estava quase em frente, um ponto de luz ao lado esquerdo entre as árvores, logo mais um e mais outro, então vislumbrei uma lâmpada fluorescente acima de uma janela da casinha branca entre as árvores. Olhei agora a igreja e aliviado via o reflexo da luz branca refletindo-se no outro lado sobre as folhas dos Eucaliptos. Fim do mistério. De nossas aventuras em contato com fantasmas a mais interessante veio depois, quando estávamos acampados no rancho de meu avô numa pescaria às margens do jacuí. Havíamos pescado exatos 5 pintados de tamanho razoável e demos três a uma família do pescador vizinho dali e resolvemos fazer os outros dois ao molho de vinho para a janta também regado a vinho. Tínhamos um garrafão. Era outono e já fazia algum frio. Jantamos os pintados com arroz branco e ficamos até tarde bebericando o vinho e contando histórias ou lembrando aventuras passadas. Finalmente dormimos e lá pelas 3h da manhã, acordo e vejo o Olímpio sentado na tarimba, todo arrepiado! – O que foi? Perguntei.

–Tem um cara todo de branco sentado no tronco ali abaixo.

– Onde? Eu não via nada, mas ele insistia,

– Está ali veja!

– Ok! Vamos conferir. Andamos descendo devagar a barranca e para mim havia apenas o tronco sobre a areia.

– Não estou vendo nada! Agora o Olímpio ficou mais branco e seus cabelos arrepiados pareciam querer abandoná-lo.

– O cara desapareceu! Falou assustado. Fomos até o local com a lanterna de mão e não havia qualquer vestígio ou marca na areia. Ficamos acordados um bom tempo e finalmente resolvemos dormir, pois não aconteceu mais nada. No dia seguinte comentei com minha mãe e lhe contei o ocorrido.

– Tio Osvaldo! Falou ela.

- Ele vestia-se sempre de branco. Tio Osvaldo estava com tuberculose e fora desenganado pelos médicos. Largou tudo e isolou-se da família. Mudou-se pra beira do rio ali onde vocês acamparam. Passou dois anos comendo folha de pau, peixe cru e consumia muito bálsamo alemão que um amigo levava pra ele. Dois anos depois voltou e foi dado como curado. Então mais tarde morreu esfaqueado em uma briga. Dizem que aparece por ali, às vezes tocando violão. Fiquei pensando, que talvez o Olímpio tivesse mesmo visto um fantasma, pois ele não sabia e nem eu, da história que minha mãe nos contou. Voltamos outras vezes ao local e nunca mais voltou a acontecer.

Sobre a obra

Muitas das manifestações ditas sobrenatuarais, acabam mostrando-se apenas naturalíssimas, mas algumas permanecem envoltas em mistério.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 20/05/2010
Código do texto: T2268679
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