Acreditas no destino?

Esta história, que vos narrarei, não possui um final feliz.

Não será um conto de fadas típico.

Não haverá um herói montado num cavalo branco que percorrerá litorais e montanhas, lutando contra os dragões mais ferozes, para enfim livrar a princesa da torre mais elevada e amá-la para sempre.

Não haverá nenhuma pessoa para se por diante de uma espada ou uma bala em movimento, para salvar a sua amada, num ato de amor ilógico e opressor.

Não.

Nesta narração a Julieta perde a vida e o Romeu não se importa.

Esta história, vivenciei-o eu.

Era uma vez, há muito, muito tempo, uma princesa.

Vivia trancada numa torre bem alta, e todos os dias desprendia os seus compridos cabelos castanhos à janela.

Esperava pelo dia em que alguém retornaria para lhe dar de volta o sapatinho de cristal que perdera há meses e meses, numa festa, quando se deparara com um príncipe que enfim era um anfíbio. (Sim, sim, coisas destas sucedem!)

Certo dia, o seu pai decidiu que estava no momento de lhe arrumar um príncipe.

Pela estrada amarela, príncipes de todas as regiões chegaram para buscarem a sua sorte com a princesa dos cabelos castanhos, mas esta apontava um defeito a cada um e conseguia sempre escapar-se do amaldiçoado destino de casar com um homem que não amava.

Uma noite, quando a princesa observava as estrelas na diminuta janela, escutou um ruído distante.

Era ele. Romeu.

Ouvira falar tanto dele, dos seus cabelos castanhos claros e olhos verdes, que decidiu que teria de lhe ofertar uma opinião.

Falaram durante toda a noite, e o episódio tornou a acontecer nas noites subsequentes.

Romeu declarou-se.

Sentia uma paixão enorme, um amor colossal, ainda que jamais tivesse permanecido diante da princesa. Ainda assim, era capaz de fazer em pedaços qualquer muro ou torre que os desunisse, para permanecer com ela.

Foi o que fez.

Romeu livrou-a, conduziu-a no seu cavalo para o seu castelo onde a fez a princesa mais feliz dos contos de fada no período de 150 dias. Os melhores de sempre.

Mas um dia, uma maçã rubra alcançou o palácio quando Romeu não estava.

Cega pelo desejo, Julieta não opôs resistência.

Faleceu, então, contaminada por veneno, no palácio do seu príncipe.

Ainda assim, morrera bem, com as recordações de épocas alegres.

Quando Romeu voltou, ao fim do dia, depois de uma longa caça, contemplou a sua amada sem vida.

Então, deslumbrou-se. Sentia-se em estado de arrebatamento.

Sumiu dali e foi feliz para sempre com o Chapeuzinho Vermelho que era mais nova e mais bela.

Fim do conto.

Apreciaram?

Eu não. Causou sofrimento. Arruinou. Matou.

Mas "erros pagam-se caros", não é?

Escutei falar que sim.

E as lágrimas em que me afogo, e disfarço com a chuva a cair em cima de mim, que muito bem me conhece, atestam-no a veracidade. Julgo-me atribuída a sofrer, como a Julieta, que viveu a morte mais dolorosa após deixar de possuir o melhor sonho de sempre.

Texto diferente para uma fase divergente.

Sem mais nada a acrescentar, permanece a interrogação:

Acreditas no destino?

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 30/05/2010
Reeditado em 11/06/2010
Código do texto: T2289950
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