O Velho e o Aprendiz

Saber! O não saber com sabedoria desperta curiosidade em todos que estão em volta daquele velho ou talvez jovem perante os anos do mundo. Falando de coisas simples porem algo que os mais cultos não conseguem observar, vai esmagando qualquer tipo de preconceito indecente existente na mente de todos que param e passam o primeiro momento na frente deste homem. Sentado em um tronco podre trazido pelo mar, aparentando que nasceu de dentro dele, vai girando os olhos e cantando bossa nova aguardando alguma pergunta interessante sobre o mundo. Esse homem olha o mar, e onda por onda percebe o tempo passar devagar, diferente de todos que vivem sem viver, pois os dias atropelam a vida pela velocidade que rasga todo o momento de lucidez. Com ele é diferente, come peixe com alface do quintal, a ova é como a rosa mais bonita para a amada, a água renova-se no poço artesiano, a única coisa que compra, são os livros fazendo-o participante do capitalismo.

O rapaz se aproxima com ar de arrogância, cursando o curso de direito procura uma vitima para expressar seu conhecimento adquirido no primeiro ano de faculdade. Chega na praia, olha para uma lado e outro, quando vê o pobre velho olhando para o infinito, começa a andar impulsionado por uma força inconsciente parecendo uma águia quando descobre a presa. Percebendo o jovem se aproximar, surge a lembrança da época de moço, bons tempos ao lado de seu avô contador de historias e seu conselheiro. Ao lado de seu avô aprendeu muitas coisas e principalmente o habito da leitura que completou sua sabedoria e preencheu sua solidão, trazendo um pouco de felicidade para aqueles que pensam.

O futuro advogado puxa conversa falando sobre a situação do mar. Poucas ondas e mar mexido! O velho sem olhar para ele, porem demonstrando simpatia, ressalta que o vento é norte, portanto as ondas vão surgir em breve. O jovem inquieto senta-se e esticando o braço demonstra não acreditar na mudança do mar, afirmando que a um ano e meio nunca viu o mar mudar mesmo ventando. O sorriso surge com uma forma espontânea na face do velho e em seguida como falando para o horizonte afirma que há setenta anos observa o mar e sabe distinguir os ventos que mudam o mar. O estudante de direito elogia a sabedora do velho, e partindo para o conhecimento legislativo fala de algumas leis aprendidas na faculdade. O velho pela primeira vez olha diretamente nos olhos do jovem aprendiz e pergunta o que ele pensa do futuro.

O futuro advogado com os olhos arregalados parecendo uma garopa fisgada, responde gaguejando que pretende ganhar dinheiro defendendo seus clientes para que um dia possa descansar em frente ao mar. Um sorriso espontâneo surge no velho, e olhando mais uma vez para o jovem afirma que não precisa defender clientes para descansar em frente ao mar, é somente decidir descansar em frente ao mar. Agora quem sorri é o jovem, dizendo que apenas olhar o mar não sustenta ninguém é preciso trabalhar para descansar. Descanse e crie como o vento adormecido que de repente começa a mudar e fazer diferença no improvável do mundo, responde o velho com simplicidade de um simples estudante. Da boca do jovem sai o esperado, por se tratar do condicionamento da educação atual, ele lembra que não há tempo para descansar apenas para trabalhar, defendendo o direito daqueles que o procuram.

As ondas começam a surgir produzindo um lindo som, contagiando o velho e o aprendiz, demonstrando que a sabedoria é observar o cotidiano na simplicidade da existência, resultando no aparecimento da felicidade até mesmo nos corações mais tristes. O jovem levantou-se e saiu de cabeça baixa. O velho acompanhando seus passos lentos pode presenciar o ultimo olhar, tendo a certeza que um dia ele voltaria com uma outra historia.

Eduardo Gamba
Enviado por Eduardo Gamba em 31/05/2010
Código do texto: T2291240
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