Processo
Quando escrevemos, deixamos um pouco de nós em cada palavra. Doamos um pouco da nossa imaginação a quem lê. Mostramos sem indicar o caminho de nosso pensar. O processo faz-se constante e célere e o caminhar de ambos - escritor e leitor - é trilhado a partir de cada passada.
Nos passos da escrita e das leituras infinitos caminhos são percorridos tempos e tempos sem precisão ou definição. Alguns caminhos obstruem-se logo a poucos metros, outros avançam por léguas e léguas. Alguns são tomados pela vegetação e depois desbravados novamente. Outros são bombardeados e reconstruídos. Há ainda aqueles que têm de ser trilhado com guias e em ocasiões especiais.
Um texto e seu autor são assim como uma estrada. Podemos saber o nome do urbanista, mas dificilmente o conheceremos pessoalmente e se o conhecermos provavelmente não o acompanharemos em seu trabalho. Caso o façamos, tomaremos ciência do que nossos olhos vêem superficialmente. Ficaremos fascinados com o movimento das terras e o vai-e-vem frenético das máquinas e dos operários. Mas o significado daquilo tudo provavelmente não saberemos mesmo que a ele indaguemos. O saber do urbanista não e o saber do médico, nem do botânico, nem do pintor. O saber dele é único e só dele. Cabe a nós, depois da estrada pronta, percorrê-la quantas vezes se fizer necessário. Aproveitarmos da paisagem, cumprimentarmos outros passantes se for possível e caminharmos com firmeza, mas sem brutalidade é importante quando se quer conhecer a via. Certamente a sinalização será mais clara, mesmo que inexistente e o caminhar será muito mais suave e agradável. Voltaremos ao canteiro de obras ou passaremos a frequentá-lo a fim de sabermos como conservar melhor uma estrada ou, quem sabe, construí-la?