delírio
Meu prédio, não tão meu é de esquina, construção engraçada, me lembra um caixote sobreposto a outro menor.
Desço do segundo andar escadas-a-baixo de dois em dois degraus se corrimão propício tivesse certamente teria descido por ele.
Ganho a rua.
Susto!
Uma batida, e ouço o piloto dar com a cabeça no asfalto.
Bum!
Baque seco, e sangue...
Olho o corpo se contorcendo algo como morte chegando, espírito desencarnando, estranho!
Dor, não, penso, já bati com a cabeça de ter tantas rachaduras no crânio que até parecia um mapa e não senti dor, não no meu caso!
Em segundos a cena com pequenos cuidados de proteção à vítima está montada, bom, porque se dependesse de mim, nada, estou completamente paralisada.
Meu trajeto quase sempre o mesmo, continuo, na esquina tem um posto de gasolina, antes uma churrascaria com um vão gigante servindo de garagem céus, o salão despencou ali, menos de dois minutos depois de eu passar.
Foi por pouco, penso, enquanto olho por cima do meu ombro esquerdo, nada, só poeira e algumas explosões de botijões de gás.
Nuh!
Olhei o posto, território onde já pisava e nem pensei mais só corri, em direção à praça 29 de março, num piscar-de-olhos já estou do outro lado dela.
Dito e feito aliás pressentido e acontecido, em sequencia mais explosões, onde era o posto só chamas e destroços voando!
Parece show pirotécnico, mais explosões, vindas agora da direção do supermercado, ao lado de onde era o posto.
Entre mortos e feridos observo à minha volta, inacreditável, leio no muro, gosto de tabaco com vinho com cerveja com café, meu pulmão masoquista também gosta, só o coração é que ressente!
Cruzo a praça, entro por uma rua que não sei o nome mas sei que vai dar em casa.
Coração ainda na mão ando em campo minado, quinze minutos me parecem uma eternidade!
Na calma e maciez do sofá com o controle remoto numa mão e o cobertor na outra, me recosto, cuidadosamente!
Não comprei os cigarros, e a vida há muito não me parecia tão rara!